quinta-feira, fevereiro 6

RH e Sustentabilidade: uma mudança em curso

Não há como deixar a sustentabilidade fora 

do eixo do negócio


Françoise Trapenard, diretora de sustentabilidade da ABRH-Nacional, está otimista. Ao menos no que se refere às empresas colocarem a sustentabilidade como eixo do negócio. E acredita que o RH tem um papel importante nesse sentido. "O RH tem um duplo papel: por um lado, ele é um ator na discussão estratégica da empresa ao redor da implantação da sustentabilidade. Por outro, ele olha para dentro de casa, para as suas próprias práticas e promove a transformação necessária para que o triple bottom line também aconteça em RH", diz Françoise, que também participa do programa O que a sustentabilidade tem a ver com a gestão do RH?, desenvolvido pela ABRH-SP, com o apoio da ABRH-Nacional.

Adriano Vizoni
Françoise, da ABRH-Nacional: as pessoas são o centro da transformação
Qual a importância da sustentabilidade, hoje, para as empresas? Já podemos dizer que se trata de uma condição básica para se fazer negócios?


A sustentabilidade está ocupando um papel cada vez mais central nas estratégias das empresas. Os clientes estão exigindo. E quando isso vira um atributo de valor para o cliente, fica muito difícil competir sem incorporá-la na forma de fazer negócio.



Em sua opinião, as organizações já incorporaram a sustentabilidade em sua estratégia ou ainda estão mais no nível do discurso?
A mudança está em curso. Temos as empresas mais inovadoras que ouviram o chamado lá atrás e já não conseguem mais se lembrar de como era antes da incorporação da sustentabilidade em seu DNA. Mas também temos, no outro extremo dessa curva, as que ainda nem se deram conta da importância do tema. Mas meu olhar é otimista, porque a tendência está na sustentabilidade como eixo do negócio. Isso é inexorável para mim.



Quais os principais obstáculos para colocar a sustentabilidade na estratégia?
O compromisso com o tempo. Nesse "jogo", a visão é sempre de longo prazo. Numa visão mais ampla, a sustentabilidade é importante para reequilibrarmos o que consumimos do nosso planeta com aquilo que ele produz no mesmo intervalo de tempo. Nesse momento, estamos exaurindo os recursos, indo mais rápido que deveríamos. Equacionar esse equilíbrio significa olhar para o sistema como um todo e não apenas para o negócio em si. Por isso, o famoso triple bottom line: resultados dos negócios, resultados humanos e resultados sociais.



Quais os erros mais comuns (ou interpretações equivocadas) quando se fala em sustentabilidade?
Que é fácil. Não é nada fácil, ainda que a ideia em si seja muito simples. Mas é justamente por ser simples que ela é muito difícil de ser implantada. Requer uma perspectiva sistêmica, que o pensamento científico não ajuda a construir. Sabemos muito de muitas coisas, mas esses saberes estão desconectados. Um excelente sinônimo de sustentabilidade, para mim, é justamente conexão. Precisamos aprender a conectar causa e consequência para entender o alcance da sustentabilidade e as transformações que ela requer em nós enquanto indivíduos e nas nossas instituições.



Como a área de RH pode ajudar a empresa a entender e a colocar a sustentabilidade na estratégia?
O RH tem um duplo papel: por um lado, ele é um ator na discussão estratégica da empresa ao redor da implantação da sustentabilidade e representa diretamente o pilar "pessoas". Por outro, ele olha para dentro de casa, para as suas próprias práticas e promove a transformação necessária para que o triple bottom line também aconteça em RH.

Atualmente, quando se fala em sustentabilidade no mundo corporativo, temos o RH como líder nesse tema ou há alguma outra área cuidando disso?

Tenho visto cada vez mais executivos de RH assumindo também essa responsabilidade. E acredito que essa combinação é muito vencedora, pois pessoas são o centro de toda essa transformação.



E como o RH pode ser mais sustentável?
Na dimensão interna da empresa, promovendo um real alinhamento entre discurso e prática. Muito já se falou do walk the talk dos executivos e do quanto isso era relevante para um bom líder. No entanto, existe também o walk the talk das organizações. E as empresas estão vivendo uma crescente banalização do discurso, que só enfraquece os vínculos. O RH precisa olhar mais para isso e realmente só falar o que de fato consegue fazer. Na dimensão externa, ou seja, no pilar social, o RH precisa assumir algumas bandeiras, atuar em advocacy. E a principal delas, em minha opinião, é a da educação pública: 85% dos estudantes da educação básica (que vai até o ensino médio) estuda em escolas públicas. Conseguimos universalizar o acesso à escola, mas a qualidade está muito aquém daquilo que precisamos. Não podemos continuar ausentes desse compromisso do país.



A ABRH-Nacional, em parceria com a ABRH-SP, criou o programa O que a sustentabilidade tem a ver com a gestão do RH? Pode falar sobre ele?
O programa foi criado justamente para colocar luz sobre o assunto e provocar uma reflexão nos participantes sobre a direta conexão que existe entre sustentabilidade e RH (veja mais no boxe). Por isso, o título do programa foi formulado como uma pergunta. Queríamos, de cara, provocar a reflexão e a dúvida, pois acreditamos que ambas são as portadoras das mudanças. A ideia original nasceu da Lilian Guimarães, diretora de responsabilidade social da ABRH-SP. Quando ela me falou do assunto, eu aderi à iniciativa de imediato. Em seguida, convidamos o Américo Figueiredo, diretor de RH da Nextel,  e, com ele, partimos para essa aventura.



Quais as expectativas em relação a esse programa?
Queremos ampliar a consciência dos profissionais de RH sobre o seu papel nas empresas e que eles saiam provocados a fazerem mudanças no seu âmbito de atuação. As revoluções sempre começam em algum indivíduo. Repetiremos o programa neste ano. Fiquem atentos às inscrições logo no primeiro semestre.




Discussão conceitual


O programa O que a sustentabilidade tem a ver com a gestão do RH? contempla uma discussão conceitual mesclada com uma abordagem pragmática sobre sustentabilidade. Teoria e prática integradas estimulando a implantação de mudanças no dia a dia. Como lembra Françoise, o objetivo não é formar "mestres" nesse tema, mas inspirar profissionais de RH a olharem a sua função de uma perspectiva mais ampla e inclusiva. A primeira edição do curso teve a duração de três meses (de setembro a dezembro), sendo promovido pela ABRH-SP e pela ABRH-Nacional, com o apoio da Fundação Telefônica, da Nextel e do Banco Santander. O curso foi dividido em três módulos: conceitos básicos de sustentabilidade; Brasil: contexto e temas sociais críticos; e RH e seus processos sustentáveis.


FONTE: RevistaMelhor

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