quinta-feira, janeiro 8

A crise do "manda quem pode e obedece quem tem juízo"

"Precisamos renovar esse repertório de pensamentos, já que estamos ingressando em uma nova era", afirma César Souza, em entrevista ao Administradores.com



Divulgação
César Souza
Autor dos bestsellers “Você é do tamanho dos seus sonhos” e “ Cartas a um jovem líder - descubra o líder que existe em você”, César Souza conversou com o Administradores.com sobre empreendedorismo e liderança. Entre outras coisas, ele destacou a necessidade de os empreendedores brasileiros amadurecerem para questões mais pragmáticas e a urgência de o Brasil avançar para reduzir os entraves institucionais à criação de novos negócios.
César também falou sobre a obsolescência do modelo de liderança que vigorou durante muito tempo e que, segundo ele, começa a perder sentido. O especialista ainda destacou a importância do fato de mais mulheres estarem ocupando funções de líderes.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Você sempre fala sobre um modelo de líder que classifica como "1.0" e cujo perfil se encontraria em crise. Por que isso aconteceu e quem é "o líder 2.0"?

O líder 1.0 ficou no passado por que ele acredita em coisas que precisam ser sepultadas, em ideias mortas. Por exemplo: “o segredo é a alma do negócio”, não se pode mais pensar que o segredo é a alma do negócio. Ele acredita também em “manda quem pode e obedece quem tem juízo” ou  “cada macaco no seu galho”, filosofias populares que se transformaram em dogmas do negócio e, infelizmente, segmentam uma empresa.
Muitos líderes ainda estão presos a esse passado, achando que o líder já nasce pronto, com frases como “olhei a pessoa nos olhos e vi que estava diante de um líder”. Isso não existe, é um mito muito grande. Outro erro é achar que o líder forma seguidores. Não. O líder 2.0 forma outros líderes. Ele não acredita que líderes nascem prontos, ele acredita que uma pessoa se torna líder. O líder 2.0 não acredita em dogmas e sim no questionamento, inovação e empreendedorismo. Ele tem que ser bom na gestão de resultados, clientes, parceiros, na gestão do seu próprio tempo, do seu equilíbrio emocional. O líder 1.0 está no passado junto com as suas ideias, lá da Segunda Guerra Mundial, quando foram desenvolvidas. Precisamos renovar esse repertório de pensamentos, já que estamos ingressando em uma nova era.

E como desenvolvemos novos líderes?

A primeira coisa que a gente precisa ensinar a uma pessoa para que ela se torne um líder é que ela deve sempre questionar. Buscar o porquê das coisas e não se acomodar com verdades absolutas. O líder não é aquele que encontra um caminho pronto. O líder é aquele que faz o caminho e a forma de se construir esse caminho é questionar, correr certos riscos e errar para encontrar sua rota. Infelizmente, no nosso sistema educacional, nas famílias e até nas empresas, o questionamento é punido. O filho pequeno é sempre levado a obedecer. A pergunta que todo pai, professor e gestor deve se fazer é: eu quero formar líderes ou seguidores? Se seu objetivo é formar seguidores, continue punindo os questionamentos e engessando as pessoas. Se quiser formar líderes, desamarre esses jovens e estimule o pensamento próprio.

Muitos empreendedores iniciam um negócio pensando em seguir um sonho. Porém, muitas vezes, não conseguem racionalizar o que é necessário para realizá-lo, falhando em questões mais pragmáticas. Você acredita que os empreendedores brasileiros precisam amadurecer nesse sentido?

Sim, com certeza. Eu acho que estamos acompanhando uma onda muito grande no Brasil de empreendedorismo, felizmente. E temos um dado interessante: o número de mulheres empreendendo superou o de homens. Porém, nós estamos ainda naquele estágio da intenção e do entusiasmo, na paixão pelo negócio. Nós precisamos profissionalizar esse grau do empreendedorismo, ou seja, os empreendedores precisam se capacitar em quesitos básicos. Por exemplo, planejamento. O empreendedor geralmente tem alergia a planejamento, ele gosta de “ sair fazendo”. São mais executores do que planejadores. Eu não quero dizer que eles se tornem apenas planejadores, mas que eles pensem de uma forma mais organizada sobre o negócio no que diz respeito a logística, gestão de clientes, de pessoas e resultados. Inclusive, pensar de uma forma mais organizada nos resultados, porque sempre medem isso a partir do faturamento e da rentabilidade, esquecendo que resultado é um conjunto de coisas. O fluxo de caixa é importante, assim como a satisfação dos clientes, o clima organizacional e a imagem, que eu considero fundamental. O empreendedor pensa ainda de forma muito intuitiva. Eu fico feliz com esse momento de entusiasmo e crescimento da veia empreendedora do brasileiro, mas preocupado com a falta de capacitação. E acho que eles precisam fazer um esforço muito grande nesse sentido.

Você citou o empreendedorismo feminino. Como você enxerga a liderença das mulheres nesse novo cenário?

Nós já temos muitas mulheres líderes que são, de fato, inspiradoras. Podemos citar a Luiza Trajano, no varejo. Eu a considero inspiradora e serve como modelo para muitas empregadoras. Temos também a Janete Vaz, do laboratório Sabin em Brasília, e Sônia Hess, da Dudalina. Quando a gente pesquisa, vê que existe aí um conjunto de líderes inspiradoras. Nós temos, obviamente, um número de homens muito maior, mas as mulheres estão crescendo muito. Eu acredito que é apenas uma questão de tempo. Pessoalmente, acredito que as mulheres são melhores gestoras de negócios que os homens. Elas têm mais apetite pelo aprendizado, capacitação e profissionalização, vão mais fundo e buscam mais profundidade. Os homens, às vezes, possuem uma arrogância de achar que já sabem de tudo e não querem aprender tanto, enquanto elas possuem sede de aprendizado. Eu vejo um futuro muito brilhante para as mulheres empreendedoras. Daqui a cinco, oito anos, esses negócios que elas estão iniciando agora chegarão a um patamar maior e as pessoas devem se inspirar em um número ainda maior de mulheres.

O que falta para o Brasil se tornar um lugar melhor para se fazer negócios?

As limitações que nós temos são institucionais. De um lado, nós temos a legislação que é brutal e o fato de o Brasil já não ser mais um país de baixo-custo. Nós temos custos trabalhistas, de logística, custos financeiros bastante elevados, tributários. Se compararmos com outros países, ninguém em sã consciência montaria um negócio aqui, porque é um clima adverso ao empreendedorismo pelos mecanismos institucionais.
O governo também não colabora. Quando você começa a ter sucesso, ele passa a taxar ainda mais. A dificuldade para se abrir uma empresa é muito grande e, para fechar, maior ainda. Tudo isso faz com que as pessoas pensem muito. Apesar desses problemas, existem muitas oportunidades no Brasil, de coisas a serem feitas para uma massa de consumidores enorme. Vemos aí uma população de 200 milhões, ou seja, dimensão continental. Esses fatores fazem com que existam muitas oportunidades aqui, diferentemente de Portugal, França ou Itália, por exemplo. Esses países têm um mercado de consumo equivalente ao de um pequeno estado brasileiro. Aqui, o conjunto dos nossos estados forma um mercado muito grande. Nossa taxa de crescimento não é maior por causa desses entraves burocráticos e circunstaciais, como no caso agora da logística.

FONTE: administradores

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