Orientação profissional se populariza, mas ainda causa dúvidas sobre o seu objetivo. Veja a lista do iG com os mitos mais comuns quando o assunto é coaching
Há alguns anos a palavra coaching (do inglês, treinamento ou instrução) já faz parte do vocabulário empresarial quando o assunto é aprimoramento de habilidades. No entanto, poucas pessoas realmente sabem quais são os objetivos deste trabalho. O uso contínuo da palavra coaching em situações equivocadas faz com que este exercício seja popularizado e confundido com outras práticas, como a tutoria e a terapia.
Por definição, o coaching é um processo em que o profissional (coach), por meio de perguntas assertivas e exercícios práticos, leva o cliente (chamado de coachee) a encontrar soluções para sua necessidade e desenvolver competências. Porém, a confusão em torno do termo criou mitos sobre qual é efetivamente o papel de um coach e como funcionam as sessões.
Tato Coutinho, diretor de núcleo da revista Trip, passou pelo processo com a coach Juliana Lacerda e conta que no início era um pouco cético. “A minha visão era a mais cínica de todas em relação ao trabalho [de coaching]”, brinca. O diretor não conseguia entender o quanto o processo o ajudaria a atingir seus objetivos e o quanto o coach só visava atingir os objetos da empresa que o contratou.
Mitos e verdades
Como Coutinho, muitos têm restrições e não aproveitam a oportunidade que a empresa lhe oferece. Para esclarecer as dúvidas mais típicas dos interessados, o iG ouviu três coachs para listar 11 mitos e verdades sobre sua profissão. Veja:
1. Mito – Coaching é aconselhamento.
Verdade – O bom coach tem a capacidade de não opinar ou interferir com sugestões pessoais, ele apenas conduzirá o processo de tal forma que o coachee encontre seus caminhos, faça suas escolhas e tome suas próprias decisões. “Em nenhum momento o coach dá conselhos do que ele deve ou não fazer”, diz a coach Mariella Gallo.
2. Mito – Coaching é para consertar comportamentos problemáticos.
Verdade – O processo visa desenvolver novas habilidades que possam ajudar o cliente a evoluir como profissional ou potencializar os pontos fortes já existentes na sua maneira de trabalhar.
3. Mito – Coaching é cobrança.
Verdade – O papel do coach não deve ser o de cobrar resultados , mas sim o de incentivar o profissional a continuar o processo e se desenvolver. No entanto, isso não significa que o coach não chamará a atenção do coachee caso perceba que ele não está se dedicando o suficiente. “Eu não tenho nenhum problema em chegar no cliente e falar ‘por que você está perdendo seu tempo? Eu não tenho tempo a perder’”, brinca Flávia Lippi, especialista em coaching e diretora do Instituto de Desenvolvimento Humano Lippi.
4. Mito – Coaching leva muito tempo.
Verdade – O coaching, diferentemente de uma terapia ou tutoria, tem um início, meio e fim bem definidos. A prática tradicional demora em torno de três meses. No entanto, durante o processo, é possível que seja identificado um novo comportamento que o coachee precisa aprimorar, exigindo mais tempo para que esse novo objetivo também seja alcançado. “[O coaching] não pode ser pra sempre, porque se for pra sempre significa que você não está conseguindo mudar seu hábito”, diz Denise Barreto, sócia diretora da Gnext, empresa de recrutamento de profissionais estrangeiros de alta qualificação.
5. Mito – Um bom coach ajuda a conseguir aumento e outros benefícios.
Verdade – Ainda que a meta do coachee seja a de conseguir novos benefícios no trabalho, o que será aprimorado são as habilidades necessárias para que o objetivo seja alcançado. Se ele ganhará ou não os benefícios, vai depender do quanto conseguirá colocar em prática as ferramentas ensinadas pelo coach.
6. Mito – Coaching é intuitivo e não é baseado em estudos.
Verdade – Coaching é um processo estruturado com base em estudos de psicologia aplicada no ambiente corporativo. Estes estudos foram iniciados por Timothy Gallwey entre 1970 e 1980 nos Estados Unidos e chegaram ao Brasil nos anos 2000.
7. Mito – Coaching é um modismo
Verdade – Quem não conhece o assunto costuma achar que é um modismo. Mas o coaching é um processo existente há 40 anos. A sua popularização se deve ao fato de que, a partir dos anos 1990, com o desenvolvimento da tecnologia da informação, o ambiente corporativo e o cenário econômico mundial vêm sofrendo mudanças em cada vez menos tempo, obrigando o profissional a se desenvolver e se adaptar rapidamente ao novo contexto, por isso o aumento da busca pelo coaching.
8. Mito – O coach é responsável pelo processo, já o coachee é responsável apenas por iniciar o processo.
Verdade – A iniciativa pelo aprendizado deve ser de ambos, ou seja, do coach e do coachee. “O coach é quem vai conduzir os princípios para que o processo aconteça. Quem vai determinar o sucesso é o cliente”, diz a coach Mariella Gallo.. Se o cliente não se dedicar a aplicar as ferramentas aprendidas no seu dia a dia, o trabalho não será eficiente.
9. Mito – Coaching é avaliação de desempenho.
Verdade – O processo auxilia no desenvolvimento das habilidades do cliente, mas não é responsável pelos resultados que ele tem de dar na organização em que trabalha. Isso depende do quanto o coachee consegue aplicar as técnicas aprendidas no dia a dia.
10. Mito – Coaching é uma vantagem em uma entrevista de emprego.
Verdade – A prática não é um curso extracurricular. Apesar de serem ferramentas que podem ser aplicadas em uma nova empresa, o que vai contar para o recrutador é que ele demonstre seus pontos fortes. “O que é visível [para o entrevistador] é a competência ali presente. Se ele conseguiu sozinho, se teve ajuda da empresa [anterior] ou de um profissional [coach], não tem como a gente identificar”, conta a recrutadora Denise Barreto.
11. Mito – Coaching é uma punição da empresa.
Verdade – A maioria das empresas procura o coach para aprimorar um ponto forte de seu funcionário pensando resultados em um curto prazo. Isso não significa que o executivo não conseguiria se desenvolver sozinho, mas ele poderia levar mais tempo. “Quanto mais você performa, mais você merece ter um processo de coaching, pois você vai multiplicar sua potencialidade”, diz Flávia Lippi.
Foi assim que Tato Coutinho decidiu aceitar participar do coaching, pois encarou como um investimento da empresa no aprimoramento de seu trabalho.
O diretor conta que antes do processo ele não conseguia falar com clareza o que esperava de seus colaboradores e tinha uma tendência a não expor sua opinião quando ela diferia da opinião de seus colegas. Com os exercícios práticos, como por exemplo, pensar em cinco ações concretas para neutralizar a sua dificuldade de passar orientações claras, ele percebeu que conseguiu aprimorar suas competências.
“Mais do que me dar ferramentas para trabalhar e desarmar as armadilhas, ela [a coach] me fez entender mais claramente os meus próprios mecanismos”, conta. “[Antes] as pessoas tinham suposições a respeito das coisas que eu queria que acontecessem. No fim, eu me tornei uma pessoa mais acessível”, diz ele.
Cuidado para não ser enganado
Como o processo de coaching não é regulamentado no Brasil, os interessados devem tomar alguns cuidados para ter certeza de que estão contratando um profissional habilitado. Um das precauções é a verificar se o coach tem certificados de institutos especializados, como a Federação Internacional de Coach (ICF, na sigla em inglês) e o Instituto Integrado de Coaching (ICI, na sigla em inglês).
Segundo Flávia Lippi, o interessado pode também pedir indicações de conhecidos que já fizeram coaching e chegaram ao resultado esperado. “Também é preciso química. Tem de ter empatia”, diz ela, lembrando que a pessoa precisa se sentir à vontade para revelar suas dificuldades para o coach.
FONTE: economia.ig
Nenhum comentário:
Postar um comentário