Roberto Marcondes Cesar Junior, membro da coordenação adjunta das áreas de Ciências Exatas e Engenharias da FAPESP, durante o evento na Fundação (foto: Eduardo Cesar)
A FAPESP realizou, no dia 27 de março, um evento de apresentação e discussão do Programa FAPESP de Pesquisa em eScience.
O objetivo do encontro foi apresentar à comunidade científica as características do programa e tirar as dúvidas dos participantes sobre a submissão de propostas.
A primeira chamada de proposta do programa, que se encerra em 28 de abril, disponibiliza R$ 4 milhões para apoiar projetos que envolvam pesquisa conjunta em Computação e outras áreas do conhecimento.
Os projetos podem estar voltados a atender demandas de pesquisas nas áreas de Ciências Agrárias; Artes, Humanidades e Ciências Sociais; Bioinformática, Biológicas e Saúde; Engenharia e Física; Clima e Ciências da Terra; e prática e educação em eScience.
“As linhas básicas dos projetos são desenvolvimento de algoritmos e modelos de dados, ciberinfraestrutura, domínios-alvo e formação de pesquisadores em eScience, mas eles não serão limitados a esses temas”, disse Claudia Bauzer Medeiros, membro da coordenação adjunta de Programas Especiais da FAPESP e da coordenação de área de Ciência e Engenharia da Computação da Fundação, durante sua palestra no evento.
De acordo com Medeiros, a ideia do programa eScience é integrar modelagem computacional e infraestrutura de dados e pesquisas em diversas áreas do conhecimento.
Grupos de pesquisa envolvidos com investigações sobre algoritmos, modelagem computacional e infraestrutura de dados, por exemplo, serão integrados a grupos de cientistas envolvidos em outras áreas que vão de Biologia a Ciências Sociais.
“A definição de eScience que utilizamos nesse programa é: um esforço de pesquisa conjunto entre pesquisadores da Ciência da Computação e de outras áreas para que, a partir dessa colaboração, possam desenvolver suas pesquisas, reciprocamente, de forma mais rápida, melhor ou diferente e ter novas ideias”, explicou Medeiros.
“É uma via de mão dupla em que cientistas da Computação auxiliam pesquisadores de outras áreas a desenvolver suas pesquisas de forma diferente e que, nessa parceria, também possam fazer Computação de uma forma inovadora”, disse.
Segundo Medeiros, as pesquisas em eScience devem ser transformadoras e multidisciplinares e não devem ser confundidas com a aplicação de técnicas computacionais já existentes, uso de tecnologias, prestação de serviços de assistência de informática ou cessão e utilização de dados.
“Se um estudo sobre a utilização da internet ou de tecnologia móvel aplicada em novas formas de aprendizado não envolver pesquisa do lado da Computação, ele não é eScience”, exemplificou. “Isso é aplicação de técnicas existentes”, afirmou Medeiros.
Dependência de dados
Medeiros explica que a eScience é uma ciência fortemente centrada e dependente de dados para o desenvolvimento de softwares, algoritmos e modelos que permitem que os cientistas tenham novas ideias ou até mesmo obtenham dados novos ou diferentes dos que já possuíam.
Algumas das principais áreas que utilizam a eScience em larga escala, de acordo com ela, são a Bioinformática e a Astronomia. Nos últimos anos, no entanto, outras áreas, como a Física de Alta Energia, Artes e Humanidades e Ciências da Saúde têm despontado como grandes usuárias de pesquisas na área, indicou Medeiros.
A Comunidade Europeia, por exemplo, instituiu um consórcio de infraestrutura de pesquisa digital para Artes e Humanidades batizado de Dariah-EU (sigla de Digital Research Infrastructure for the Arts and Humanities).
O consórcio reúne 14 países, com o objetivo de melhorar a coleta, organização e disponibilização de dados de pesquisa nas duas áreas.
“Esse é um projeto típico de infraestrutura para eScience que exigiu dos cientistas da Computação a criação não somente de toda uma metodologia de desenvolvimento de redes, protocolos e formas de acessar e disponibilizar dados, como tem permitido que os pesquisadores das áreas de Artes e Humanidades interliguem seus trabalhos, colaborem e troquem dados disponíveis nessa rede”, contou.
Política de gestão da informação
Uma das razões da projeção mundial da eScience é a preocupação de como preservar e disponibilizar a quantidade cada vez maior de dados gerados pelas pesquisas de diversas áreas, de modo que sejam compartilhados e gerem ideias, apontou Roberto Marcondes Cesar Junior, membro da coordenação adjunta das áreas de Ciências Exatas e Engenharias da FAPESP.
Com base nessa constatação, agências internacionais de fomento à pesquisa, como a National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos, e os Research Councils (RCUK), do Reino Unido, instituíram programas voltados a apoiar pesquisas nessa área no começo dos anos 2000, exemplificou Cesar Junior.
“O lançamento de programas de apoio à pesquisa em eScience por essas agências internacionais de fomento possibilitou iniciar a construção de uma estrutura em seus respectivos países para organizar, de maneira institucional, mecanismos de preservação dos dados gerados nas diferentes pesquisas e de compartilhamento eficiente para aumentar não só a quantidade, mas a qualidade dos estudos realizados a partir deles”, avaliou.
A preocupação com a gestão e a disponibilização dos dados gerados pelas pesquisas financiadas com recursos públicos também foi uma razões para a criação do Programa FAPESP de Pesquisa em eScience, disse Cesar Junior.
A coordenação de área de Ciência e Engenharia da Computação da Fundação percebeu, nos últimos anos, pedidos de apoios a projetos de pesquisa em diferentes áreas que tinham, em comum, a necessidade de pesquisa computacional, tais como algoritmos e modelos para gerenciamento e visualização de grandes volumes de dados.
A partir dessa constatação, a FAPESP realizou em 2009 dois workshops com a participação de cientistas da Computação e de outras áreas, com o objetivo de identificar melhor as demandas de pesquisa computacional dos cientistas no Estado de São Paulo.
Algumas das conclusões dos encontros foram que eScience seria um bom tema de programa de pesquisa de longa duração, como os já mantidos pela FAPESP – tal como o Programa de Pesquisas em Caracterização, Conservação, Recuperação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Estado de São Paulo (BIOTA-FAPESP) –, porque permitia o avanço nas pesquisas não só em Ciências da Computação, mas também em outras áreas.
Outra constatação foi a de que não existia uma preocupação sistemática com a gestão e a disponibilização dos dados gerados nas pesquisas realizadas em diferentes áreas, contou Cesar Junior.
“Observamos que só algumas pessoas e instituições possuem essa preocupação com a gestão e disponibilização dos dados gerados pelas pesquisas, mas que isso não era algo generalizado”, afirmou.
“Nesse sentido, o Programa FAPESP de Pesquisa em eScience deverá contribuir não só para a construção de uma infraestrutura de pesquisa em Computação, mas para o cuidado dos dados gerados pelas pesquisas financiadas pela FAPESP”, avaliou.
Uma das exigências dos projetos apoiados pelo Programa FAPESP de Pesquisa em eScience será a explicitação de como será sua política de gestão de dados, incluindo a especificação do tipo de dado gerado, a forma e o tempo que serão disponibilizados, o modo de preservação e os tipos de cuidados tomados em relação a questões de privacidade e ética, apontou Medeiros.
“Essa é uma questão que também se torna cada vez mais premente e discutida por outras agências de fomento à pesquisa mundiais. A NSF, por exemplo, passou a exigir em 2010 que todo projeto submetido a financiamento descreva a política de gestão de dados a ser adotada”, disse.
FONTE: FAPESP
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