Carlos Rodolfo Schneider, empresário em Joinville e coordenador do MBE
Duas perguntas estão no centro das preocupações do empresário da indústria de transformação: "como uma empresa brasileira pode ser competitiva pagando custos de mão de obra superiores aos dos países desenvolvidos, obtendo índices de produtividade de emergentes?" e "como competir num mundo globalizado, arcando com um Custo Brasil asfixiante, muito superior ao custo dos países que temos que enfrentar?".
Há diversos exemplos de distorções de custo no Brasil. Cálculos da MB Associados mostram que, mesmo com o atual esforço do governo para reduzir os preços da energia no país, a tarifa média para a indústria ainda continuará acima da mexicana, e quase o dobro da americana - mesmo sabendo que a matriz de geração do Brasil é uma das mais baratas do mundo. Tributos e encargos setoriais explicam essa incongruência: os encargos cresceram de 13% da conta de energia no ano 2000 para 45%. Segundo o Instituto Aço Brasil, o custo da energia em dólar subiu de US$ 27 para US$ 120 o MWhora em dez anos. O Energy Information Administration dos EUA estima o custo da energia industrial no Brasil em US$ 138/MWh, a segunda mais alta do mundo.
Estudo conduzido pela A.T. Kearney revela que a mão de obra chinesa é seis vezes mais barata que a brasileira. Enquanto o faturamento líquido real da indústria de transformação no Brasil cresceu 10,9% de 2004 a 2009, os salários avançaram 31,7%. Pesquisa da Price Waterhouse Coopers concluiu que os nossos custos de produção são em média 60% maiores do que os de outros países como China, México e Índia.
Segundo o Departamento de Competitividade da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, os tributos representam 40,3% dos preços dos produtos industriais, considerando-se toda a cadeia. O sistema tributário brasileiro vem dando uma grande contribuição para inviabilizar a nossa indústria de transformação: enquanto, em 2011, a sua participação no PIB caiu para 14,6%, ela arca com 33,9% dos impostos. Uma relação insustentável.
É mandatório simplificarmos a arcaica e caótica estrutura tributária que faz com que as empresas brasileiras tenham que gastar muito mais horas do que quaisquer outras para pagar tributos. E o fisco, para conseguir administrar essa parafernália, e tentar reduzir a sonegação que ela estimula, vem impondo sucessivos custos adicionais às empresas que já cumprem com suas obrigações e lutam para sobreviver, criando pérolas como "substituição tributária", "sped fiscal" e "resolução 13 do Senado". Não só temos a mais alta carga tributária entre os países emergentes, gastamos mais horas para conseguir pagá-la, como quitamos muitos impostos antes mesmo de vender os nossos produtos!
Yoshiaki Nakano, diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, um dos fundadores do Movimento Brasil Eficiente (MBE), escreveu que "o quadro de deterioração e perda de competitividade da indústria brasileira é muito maior do que imaginávamos. Instalou-se um círculo vicioso de pressão de custos e queda de produtividade e das margens de lucro". O governo federal, ciente do problema, tem implementado medidas de apoio à indústria, que, até aqui, têm sido insuficientes para estimular uma reação dos investimentos, principalmente porque o Custo Brasil continua mantendo a nossa economia pouco competitiva, especialmente a grande maioria dos setores e empresas que têm sido pouco beneficiadas pelas medidas. Muito mais eficazes seriam ações que atacassem a competitividade sistêmica da nossa economia.
FONTE: economiasc
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