quinta-feira, novembro 21

Graduação tecnológica: pressa para ingresso no mercado de trabalho pode levar a arrependimento na escolha do curso

Tecnólogos oferecem rápida inserção no mundo do trabalho, mas escolha errada pode tornar diploma inútil



Ter um retorno rápido e garantido do investimento em uma graduação é uma condição que pesa na escolha de muitos estudantes. Com essa característica, os tecnólogos são cursos desenvolvidos para estarem o mais próximo possível das necessidades do mercado, ao mesmo tempo pedindo um menor comprometimento de dinheiro e de tempo.


Mas antes de se deixar convencer pela tentação de se formar mais cedo e desembolsar menos, existem outros fatores importantes que precisam ser considerados – correndo o risco de gerar frustração e exigir mais tempo e dinheiro em outro curso.

É o que explica Henrique Heidtmann Neto, chefe do Centro de Graduação da Escola Brasileira de Administração Pública de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV/EBAPE) no Rio de Janeiro. Segundo ele, não há problema em buscar algo mais rápido e barato, desde que o aluno considere outras questões. “A expectativa deve acompanhar o comportamento do mercado, da área que o estudante atua, para que ele não se frustre”, afirma. “Ele tem que pensar se é isso que gosta, tem que ver se a área é promissora, e então gerar a expectativa necessária para ir atrás."

Arrependimento depois da escolha

Foi nessa armadilha que Tatiane Carmo, de 38 anos, acabou caindo. Aluna do último ano de logística, a profissional, que trabalha como oficial administrativa na área da saúde, optou há quatro anos pela graduação tecnológica porque precisava de um curso rápido e que lhe desse um melhor retorno. “Não tinha mais paciência pra estudar mais tempo”, lembra.

Com a formatura, porém, veio a frustração por entender que havia escolhido o curso errado para sua área de atuação. “Para quem tem certeza do que quer fazer, é benéfico, pois realmente traz um retorno mais rápido. Mas a ansiedade me atrapalhou, pois apostei num curso somente pelo retorno rápido, e acho que se pesquisasse melhor, escolheria outro”, afirma.


Ainda que muitos universitários também se decepcionem com suas escolhas de graduações acadêmicas, a diferença para os tecnólogos é que se debruçam sobre uma área muito específica, permitindo pouca mobilidade e flexibilidade na atuação profissional depois da formatura. Por isso, enquanto uma pessoa graduada em psicologia pode trabalhar desde clínica até recursos humanos, por exemplo, outra formada em um tecnológico em gestão de pessoas não possui muitas opções além dessa.

A escolha foi certa no caso de Sylvielly Sousa, de 20 anos, que cursa o primeiro semestre de tecnologia em manutenção industrial pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE). Além de ter afinidade com a área de exatas, ela se interessou pelo diploma de graduação aliado à rápida inserção no mercado de trabalho. “Os estudantes que ainda estão cursando a faculdade de tecnologia conseguem vagas de estágio com facilidade e a maioria deles é efetivada por causa do curso e da instituição”, afirma.

Retorno rápido

Neto, da Ebape, instituição que desenvolve os cursos tecnólogos da FGV, costuma ministrar palestras sobre o tema e é frequentemente questionado sobre o salário médio de um profissional formado em uma graduação deste tipo. Mas, para ele, antes de pensar na recompensa o jovem precisa focar no desenvolvimento de habilidades para conseguir um bom emprego. “Não adianta o estudante achar que vai fazer um curso tecnológico e sair um profissional totalmente qualificado”, explica. “Também é necessário saber se comunicar, falar e escrever bem.” 



Denis Carmassi, diretor operacional do Instituto Brasileiro de Tecnologia Avançada (IBTA), concorda que os jovens têm pressa. Para ele, não apenas o estudante espera resultados imediatos, como as empresas passaram a se comportar da mesma maneira e também cobram resultados mais cedo, criando um círculo vicioso e fazendo com que mais pessoas procurem os tecnólogos. “Tudo deve ocorrer mais rapidamente”, afirma.

É o caso de Victor Couto Alves, de 24 anos, que procurou uma graduação tecnológica em petróleo e gás pelo retorno rápido oferecido. Ele lembra, no entanto, que sua expectativa sobre os benefícios que o curso traria teve altos e baixos enquanto ele estudava, o que o levou a criar o site Tecnopeg, para suprir a carência de informações sobre a indústria – principalmente para tecnólogos.

Hoje, Victor dá palestras sobre o assunto e alerta para a necessidade de canalizar a ansiedade de se inserir rapidamente no mercado como impulsão a um objetivo. “Isso deve ser feito de maneira planejada e bem preparada, pois a ansiedade também pode fazer a pessoa queimar etapas. O profissional deve sair da sua linha de conforto, buscar alternativas e formações complementares, desenvolver os aspectos comportamentais, ter atitude e principalmente uma boa rede de relacionamento”, aponta.


FONTE:guiadeeducacao

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