Pesquisadores debatem o ensino de Engenharia durante Fórum Mundial de Ciências, no Rio
(foto: W. Castilhos)
O papel da educação superior, em especial o da Engenharia, para alcançar as metas de sustentabilidade global foi uma das tônicas das discussões no segundo dia do 6º Fórum Mundial de Ciências (FMC), que terminou na quarta-feira (27/11) no Rio de Janeiro.
“O mundo está produzindo mais doutores do que nunca. Boa parte dos países, tanto os desenvolvidos como os em desenvolvimento, estimula os sistemas de pós-graduação porque enxerga a mão de obra mais qualificada como uma chave para o crescimento econômico”, afirmou o engenheiro sul-africano Daya Reddy, presidente da Academia de Ciências da África do Sul e professor da Universidade da Cidade do Cabo, que participou da sessão plenária sobre “Ciência e Educação em Engenharia”.
A questão, segundo Reddy, é que em alguns países, incluindo Estados Unidos e Japão, os graduados enfrentam um setor industrial incapaz de absorvê-los. A oferta ultrapassa a demanda.
Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, na sigla em inglês) mostram que os EUA formam 20 mil doutores por ano, com crescimento anual de 2,5%.
No Japão, nos anos de 1990, o governo estabeleceu uma política para triplicar o número de PhDs, visando tornar a ciência japonesa mais competitiva com a do Ocidente. O governo conseguiu alcançar sua meta. “O problema agora é para onde mandar os pós-graduados, já que não há lugar para eles nem na Academia nem nas empresas”, afirmou Reddy.
Na China, o número de doutores alcançou a cifra de 50 mil ao ano – um crescimento anual de 40% –, número que ultrapassa o de todos os outros países. A mão de obra é largamente absorvida, resultado do boom na economia chinesa. “Para eles, é relativamente mais fácil encontrar trabalho em seu país", disse Reddy.
Em outros países em desenvolvimento a situação é diferente. Em 2004, a Índia produziu cerca de 5.900 doutores em ciência, tecnologia e engenharia, número que aumentou para 9 mil ao ano, em um crescimento anual de 8,5%. “O número ainda se encontra abaixo da demanda da indústria e o país precisa de mais doutores para corresponder ao crescimento de sua economia e de sua população, que já chegou a 1,23 bilhão”, avaliou o pesquisador. A meta agora é fazer 20 mil PhDs até 2020.
Na África do Sul, de acordo com Reddy, o Plano Nacional de Desenvolvimento estabelece uma meta de 100 PhDs por mil habitantes até 2030, o equivalente a 5 mil por ano. Atualmente, o país forma 30 doutores por cada mil habitantes, ou seja, mil por ano. “Temos uma população de cerca de 50 milhões de habitantes, então o número é bem razoável”, avaliou o pesquisador sul-africano.
O Brasil forma mais de 10 mil doutores por ano (equivalente a um crescimento anual de 11%). Desse número, 53% são doutores em ciências e engenharias e 47% em outras áreas, como humanas.
O país, no entanto, tem ainda menos de dois doutores por mil habitantes. As mulheres brasileiras passaram a ser maioria entre os doutores titulados no país a partir de 2004, com 51% do total, porcentagem que vem se mantendo desde então.
“Para um país cuja pós-graduação tem apenas 50 anos, o número não deixa de ser um progresso, embora ainda careçamos de 20 mil engenheiros a cada ano”, destacou Jacob Palis, presidente da Academia Brasileira de Ciências.
Se ter mais e mais doutores é visto pelos países como o segredo para impulsionar suas economias, para os pesquisadores reunidos no 6º FMC o desafio é alcançar o desenvolvimento de forma sustentável e inclusiva, em um mundo que apresenta problemas como superpopulação, pobreza, urbanização acelerada, mudanças climáticas, crescente demanda por energia, comida e água e vulnerabilidade da população a doenças infecciosas e a desastres naturais, conforme afirmou o engenheiro Tariq Durrani, vice-presidente da Royal Society de Edinburgh, também palestrante do Fórum Mundial da Ciência.
FONTE: FAPESP
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