Introdução
Diante da complexidade e desenvolvimento da sociedade, diversos fatores atingem, em aspectos diversificados, a vida do indivíduo. Por estar inserido num ambiente social, ele é muitas vezes cobrado por suas habilidades, as quais podem não estar no seu estado de normalidade.
As concepções que o sujeito tem à respeito do mundo e de si mesmo e a maneira como lidar com elas afeta seu bem-estar emocional. Neste sentido, quando a capacidade de se relacionar com outras pessoas ou de solucionar situações conflituosas está em déficit podem surgir problemas psicológicos ligados à ansiedade, inclusive o Transtorno de Ansiedade Social (TAS). De acordo com Sims (2001), as pessoas com o transtorno descrevem componentes ideacionais típicos, concentrando-se em temas de perigo pessoal, especialmente danos físicos, além de envolver medo de desempenho na presença de outras pessoas.
Este trabalho se justifica pela necessidade de explicitar um tema considerado relevante para a atualidade como também mostrar até que ponto o grau de ansiedade pode afetar o comportamento do indivíduo. Além disso, possibilitar a prática e o crescimento intelectual acadêmico e social na elaboração de um artigo científico. Visa permitir também a identificação e possíveis esclarecimentos do Transtorno de Ansiedade Social.
Dessa forma, a questão norteadora deste estudo é saber quais as causas e consequências, em nível de comportamento de social, dos indivíduos portadores do TAS.
Transtorno de Ansiedade Social
O Transtorno de Ansiedade Social (TAS), também conhecido como Fobia social e Transtorno de Fobia social, refere-se ao medo excessivo que os indivíduos têm de humilhação ou embaraço em várias situações sociais, como ao falar em público, urinar em banheiros públicos (bexiga envergonhada) e falar com alguém que tencione namorar (SADOCK; SADOCK, 2007).
Segundo a CID-10, a fobia social frequentemente se inicia na adolescência e está centrada em torno de medo de expor-se a outras pessoas em grupos comparativamente pequenos (em oposição a multidões), levando à evitação de situações sociais. Diferentemente da maioria das outras fobias, a Fobia social é igualmente comum entre os homens e as mulheres.
De acordo com Elioterio (2007), o Transtorno de Ansiedade caracteriza-se como medo marcante e persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho, onde a pessoa teme demonstrar ansiedade ou agir de modo humilhante. Nesta publicação, portanto, o TAS é apresentado como um temor relacionado a situações públicas envolvendo desempenho, bem como situações públicas de interação social.
Brito (2007) afirma que os comportamentos decorrentes são fuga e esquiva, respostas que eliminam, amenizam ou adiam um evento aversivo. Se a emissão desses comportamentos não for possível, o contato é realizado com grande sofrimento e comprometimento cognitivo e autonômico do indivíduo.
Pessoas com TAS descrevem componentes ideacionais típicos, concentrando-se em temas de perigo pessoal e especialmente danos físicos (SIMS, 2001). Os pensamentos das pessoas afetadas incluem: “Posso entrar em pânico na frente de outros”; “Posso morrer de ataque cardíaco enquanto durmo” e “Terei um ataque cardíaco”. Essas distorções podem interferir no aprendizado ao diminuir a concentração, reduzir a memória e perturbar a capacidade de fazer relações (SADOCK; SADOCK, 2007).
Ansiedade, Medo e Adaptação
Vale ressaltar que todo mundo experimenta ansiedade – uma sensação difusa, desagradável e vaga de apreensão -- por vezes acompanhadas de sintomas autonômicos. A ansiedade é um sinal de alerta; indica um perigo iminente e capacita a pessoa a tomar medidas para lidar com a ameaça. O medo também é um sinal de alerta, semelhante à ansiedade. De acordo com Sadock&Sadock (2007), a diferença encontra-se no fato de que o medo é uma resposta a uma ameaça conhecida, externa, definida e sem conflitos; a ansiedade é uma resposta a uma ameaça desconhecida, interna, vaga e conflituosa.
Embora a ansiedade favoreça o desempenho e adaptação, ela o faz somente até certo ponto, até que o organismo atinja um máximo de eficiência. A partir de um ponto excedente a ansiedade, ao invés de contribuir para a adaptação, concorrerá exatamente para o contrário.
Fatores Relacionados ao Transtorno de Ansiedade Social
O TAS é um dos transtornos de ansiedade mais comum e tem sido considerado um grave problema de saúde pública. No entanto, Crippa, Loureiro e Morais (2007) afirmam que tal condição clínica, por vezes, é sub-reconhecida e subdiagnosticada por estar frequentemente acompanhada por comorbidades como depressão, distimia, abuso e dependência de álcool e drogas, ideação suicida, transtornos alimentares e outros tipos de transtornos de ansiedade. Dessa forma, existe a dificuldade na identificação da Fobia social por ela estar associada a outras características sintomáticas.
Indivíduos com fobia social, geralmente, apresentam hipersensibilidade a críticas, avaliações negativas ou rejeição, têm dificuldade em ser afirmativos, e possuem baixa auto-estima e sentimento de inferioridade (BRITO, 2007).
As pesquisas na área têm possibilitado identificar alguns fatores que levam à predisposição do TAS, como os fatores biológicos, cognitivos, fatores envolvendo relações familiares, sociais/culturais e de personalidade. Segundo Elioterio (2007):
- Fatores biológicos
- Não se identificam, nestas experiências, provas suficientes para confirmar uma transmissão genética direta, mas, de alguma forma, pôde-se, em sua conclusão, identificar a possibilidade de uma “vulnerabilidade constitucional” para o desenvolvimento de um transtorno de ansiedade.
- Os parentes de primeiro grau de indivíduos com Fobia social têm cerca de três vezes mais probabilidade de serem afetados com a condição do que parentes de indivíduos sem transtornos (SADOCK; SADOCK, 2007).
- Fatores cognitivos
- Provável ligação da Fobia social com forte desejo de causar impressão favorável nos outros e uma insegurança marcante sobre a própria habilidade em alcançar esse objetivo. Quando entram em uma situação social, os indivíduos acreditam que se comportarão de modo inadequado e como consequência serão rebaixados, rejeitados. À medida que a situação social é vista como perigosa, essa avaliação ativa um programa de ansiedade, onde os sintomas tornam-se novas fontes de ameaça, já que são avaliados negativamente pelo doente.
- Fatores envolvendo relações familiares
- Influência do ambiente familiar, principalmente da relação com os pais;
- Vivência de superproteção;
- Vivência de rejeição;
- Vivência de isolamento social.
- Fatores sociais/culturais
- Preconceito entre colegas;
- Competição excessiva dentro do ambiente escolar, acadêmico e social.
- Fatores de personalidade
- Medo da avaliação negativa.
Em síntese, pode-se dizer que estará mais propenso ao TAS aquele indivíduo que apresenta um estilo cognitivo que pode ser aprendido e formado a partir de experiências da vida e a uma relação parental crítica, rejeitadora, superprotetora, com ênfase nas regras de avaliação dos outros, a um baixo nível de encorajamento ao engajamento social e a sociedades competitivas.
Em relação aos critérios diagnósticos, conforme a CID-10, o indivíduo apresenta um medo acentuado e persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho, nas quais ele é exposto a pessoas estranhas ou ao possível escrutínio por terceiros; o indivíduo teme agir de um modo que lhe seja humilhante e vergonhoso; a exposição à situação social temida quase invariavelmente provoca ansiedade, que pode assumir a forma de um ataque de pânico ligado à situação ou predisposto por situação; a pessoa reconhece que o medo é excessivo ou irracional; as situações sociais e de desempenho temidas são evitadas ou suportadas com intensa ansiedade ou sofrimento; a esquiva, a antecipação ansiosa ou o sofrimento na situação social ou de desempenho temida interferem significativamente na rotina, no funcionamento ocupacional (acadêmico), em atividades sociais ou relacionamentos do indivíduo, ou existe sofrimento acentuado por ter a Fobia.
O Transtorno de Ansiedade Social, na maioria das vezes, é acompanhado por sinais e sintomas como: palpitações, tremores, sudorese, desconforto gastrointestinal, tensão muscular, rubor facial e confusão (CRIPPA; LOUREIRO; MORAIS, 2007).
Danos do Transtorno de Ansiedade Social
Frente às situações percebidas como ameaçadoras, os indivíduos portadores do TAS procuram evitá-las e como o transtorno limita-se ou prevalece no contato social, a vida cotidiana pode se caracterizar pela recusa em apresentar trabalhos ou seminários, escrever, comer e falar ao telefone na frente de colegas, realizar entrevistas na escola, com professores, ou no trabalho, com chefes, iniciar uma relação afetiva, viajar com os amigos, participar de jogos e de atividades esportivas, entre outras. Considera-se, assim, que as conseqüências relacionadas ao TAS incidem diretamente na vida cotidiana das pessoas, possivelmente prejudicando sua qualidade de vida (CRIPPA; LOUREIRO; MORAIS, 2007).
Muitas vezes, os portadores se vêem como incapacitados. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) apresenta incapacidade como um termo genérico para caracterizar deficiências, limitações de atividades e restrições de participação em diferentes domínios, englobando a interação entre o indivíduo e seus fatores contextuais.
Para as pessoas com TAS, os prejuízos funcionais se configuram como um ponto central de suas dificuldades (CRIPPA; LOUREIRO; MORAIS, 2007). Dessa forma, segundo os profissionais da área, as conseqüências são de moderadas a graves nas áreas referentes à escola, trabalho, relações familiares, namoro/casamento, amizades/rede social e outros interesses. É frequente o absenteísmo, pouca produtividade no desempenho profissional e atividades de autocuidado também se mostram comprometidas. Dessa forma, quanto maior a intensidade de sintomas relacionados ao TAS, maiores os prejuízos funcionais e menor a qualidade de vida.
Um aspecto interessante dos estudos de Crippa, Loureiro e Morais (2007) é que as pessoas solteiras ou separadas e com menor índice de escolaridade apresentam mais prejuízos em comparação com as pessoas casadas e com maior escolaridade.
Partindo do pressuposto de que as pessoas com TAS apresentam indicadores de limitações profissionais, consequentemente elas apresentam limitações quanto aos recursos financeiros, pois gastam mais com serviços de saúde e ganham menos referindo dificuldades em conseguir emprego e nas relações de trabalho, além da perda da produtividade.
Tratamento
De acordo com SADOCK&SADOCK (2007), tanto a psicoterapia como a farmacoterapia são úteis no tratamento do Transtorno de Ansiedade Social, e abordagens variáveis são indicadas para os tipos generalizados e envolvem situações de desempenho. Alguns estudos indicam que a utilização tanto de uma como de outra produz melhores resultados do que cada tratamento isoladamente, embora este achado não seja aplicável a todas as situações e pacientes.
Medicamentos eficazes no tratamento da Fobia social incluem (1) inibidores seletivos de captação de serotonina (ISRSs), (2) benzodiazepínicos, (3) venlafaxina (Effexor) e (4) buspirona (BuSpar). A maioria dos clínicos considera os ISRSs o tratamento de primeira linha para pacientes com Fobia social generalizada. Os benzodiazepínicos alprazolam (Frontal) e clonazepam (Rivotril) também são eficazes. A buspirona mostrou efeitos adicionais quando utilizada para potencializar o tratamento com os ISRSs.
Considerações Finais
O Transtorno de Ansiedade Social é uma realidade presente e cada vez mais frequente no cotidiano, dado que o desenvolvimento humano implica também no surgimento de vários fatores que possam afetar a sua saúde.
Tendo em vista a relevância e a contribuição que a elucidação deste transtorno trará para a avaliação de suas conseqüências, é de suma importância que os profissionais de saúde avaliem a funcionalidade, tendo em vista que somente o conhecimento das causas e das freqüências não é suficiente para intervenções, ressaltando que a necessidade da identificação do que as pessoas podem ou não podem fazer na sua vida diária como recurso que instrumente a prática da saúde mental.
Fonte: artigos.psicologado
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