Todos os dias procuramos respostas no Google. Em 2012, realizamos cerca de 100 bilhões de buscas por mês no site. Com 15 anos de vida recém-completados, agora é o próprio Google que está à procura de algo.
Ligada a quase 70% de todas as pesquisas feitas na internet, a empresa procura responder a um desafio trazido pela emergência de um novo tipo de busca, chamado “conversacional”, “abstrato” ou “latente”.
A diferença dessa tendência em relação ao modelo do passado é fácil de entender.
Antes, quando desejávamos algum tipo de resposta da internet, digitávamos palavras-chave de forma mais ou menos “telegráfica”, pouco natural, alinhando palavras soltas. Era possível digitar, por exemplo, expressões como “restaurante barato temaki são paulo”, se quiséssemos encontrar opções de lugares para comer a iguaria japonesa na capital paulistana por um preço razoável.
Fomos treinados a elaborar expressões dessa forma brusca e entrecortada, um pouco como “homens das cavernas”, porque descobrimos quase intuitivamente que essa é a maneira mais eficaz de produzir as ocorrências que esperamos de um site de busca.
Acontece que, na vida real, ninguém pronuncia frases como “restaurante barato temaki são paulo”. A formulação mais provável de uma demanda como essa seria algo como “Onde consigo comer temaki em São Paulo sem gastar muito?” – uma expressão elaborada que talvez não dê os melhores resultados no modelo tradicional.
A busca “conversacional” é justamente aquela que responde a demandas expressas da forma mais natural possível. Isso significa tanto se aproximar da enunciação mais corriqueira de algumas frases quanto considerar a lógica das necessidades e do raciocínio do usuário no processo de busca.
O Google sabe da necessidade de tornar seu serviço mais adequado ao funcionamento abstrato de uma pesquisa. Não é por outro motivo que lançou recentemente seu novo algoritmo, apelidado de “Hummingbird”, um mecanismo que busca não apenas processar a combinação de palavras mas também, e principalmente, compreender conceitos e significados de formulação complexa.
O “Hummingbird”, que significa “beija-flor” em inglês, foi assim apelidado porque o algoritmo, como o pássaro tropical, promete ser preciso e ágil. A mudança não deve alterar a lógica das táticas de SEO, mas nem por isso deixa de ser profunda e importante. Entendido pelo Google como a atualização mais significativa já realizada em seu produto desde 2001, o novo mecanismo é capaz de lidar com demandas mais conversacionais e entregar ao usuário exatamente aquilo de que precisa.
Não conseguir realizar essa entrega seria um grande risco – sobretudo porque há concorrentes à vista.
O Facebook é o primeiro exemplo que vem à cabeça. O site de Mark Zuckerberg recentemente apresentou sua busca social, uma novidade que aos poucos vai chegando às contas dos brasileiros. A ideia é fazer uma consulta com base nos perfis de seus contatos e descobrir pessoas a partir de seus interesses e preferências. Você pode encontrar “amigos que já estiveram em San Francisco” ou “amigos que curtem The Smiths”, por exemplo.
Hoje, estudos mostram que as pessoas passam mais tempo no Facebook do que no Google. O que aconteceria se a rede social investisse mais em ampliar e sofisticar suas buscas?
A Apple é outra concorrente que também deve ser acompanhada – assim como todo o mercado mobile. Aprimorado, seu dispositivo de busca por voz (o famoso “Siri”) pode ter um impacto importante na disposição de forças do mercado.
Por essa razão, o próprio Google também investe em soluções que permitem fazer buscas oralmente, como o aplicativo Google Now para os smartphones com Android ou o Google Voice Search, que foi adicionado ao Chrome há pouco tempo. O Google Glass, óculos inteligentes também operados por voz, é outro exemplo de produto que revela a preocupação da empresa em acompanhar a tendência da busca móvel acionada pela fala.
Hoje e cada vez mais daqui para frente, faremos pesquisas na internet sem precisar pensar muito. No futuro, será corriqueiro fazer pedidos por voz aos nossos dispositivos móveis, como se fossem pessoas. Buscar uma informação – por mais banal que seja – na internet já é um hábito cotidiano, cada vez mais adaptado às nossas rotinas. O caminho para um processo de busca por informações mais natural e orgânico é inevitável. “Restaurante barato temaki são paulo” é o tipo de expressão que não terá o menor sentido digitar – que dirá falar.
“Você lembra como era fazer uma busca em 1998?”, escreveu Amit Singhal, vice-presidente sênior de buscas do Google, em post no blog da empresa na ocasião do lançamento do Hummingbird. “Você se sentava, ligava o seu imenso computador, discava com o seu modem barulhento, digitava algumas palavras-chave e recebia 10 links azuis para sites que tinham aquelas palavras (…). O mundo mudou muito desde então: bilhões de pessoas se conectaram à internet, a web cresceu exponencialmente, e agora você pode perguntar qualquer coisa ao aparelhinho dentro do seu bolso”.
É na esteira dessas mudanças históricas e irreversíveis no comportamento do usuário, muito aceleradas pelos efeitos da revolução móvel, que o Google está reagindo e tentando produzir novas respostas.
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Imagem adaptada de Kevin Utting (Flickr/Creative Commons)
FONTE: exame.abril
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