A economia e a oferta de emprego em 48 cidades do interior do país crescem acima da média nacional. Veja por que esses municípios se desenvolvem em ritmo acelerado e que oportunidades eles oferecem
Balneário Camboriú, em Santa Catarina: a expansão do consumo e do turismo
atrai novos empreendedores
Há no Brasil um grupo de cidades médias, com mais de 200.000 habitantes, que se desenvolvem mais rapidamente do que a média nacional. Além de atrair mais investimentos do que seus pares federativos, esses municípios empregam mais profissionais e recebem mais imigrantes em busca de oportunidades de trabalho.
São 48 cidades que, num intervalo de seis anos, de 2004 a 2010, tiveram crescimento econômico médio (medido pelo PIB) de 153%. no mesmo período, o piB brasileiro cresceu 94%. Já o emprego formal subiu 39% em todo o país de 2004 a 2010, mas no grupo das médias ligeiras o incremento foi de 70%.
Esses municípios são os principais expoentes de um conjunto de 133 cidades que, juntas, detêm 64% do poder de consumo no Brasil. Só as 48 maiores concentram 7% da população, respondem por 8,8% da riqueza gerada pelo país e empregam 7,7% do total de pessoas com carteira de trabalho assinada.
As informações fazem parte de um levantamento divulgado em setembro pelo Ibope Inteligência, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografa e Estatística (IBGE) para os anos de 2004 a 2010. Há atualmente no Brasil 5.570 municípios.
"Nós vemos uma saturação dos grandes centros e um consequente desenvolvimento de cidades menores que orbitam em torno das capitais", diz Márcia Sola, responsável pelo estudo do Ibope.
As razões para essa transição do eixo do desenvolvimento no país das capitais para o interior variam conforme a região, mas há alguns motivos comuns, como a fuga de empresas para locais com mais incentivos fiscais e a busca por mercados emergentes.
Do lado das pessoas, existe migração de profissionais dos grandes centros urbanos para regiões menores em que oportunidades de carreira convivem com maior qualidade de vida — mesmo que os salários continuem sendo menores em cidades com menos habitantes.
"A média salarial ainda é mais alta nas capitais, mas o custo de vida das cidades médias (mais baixo do que nos grandes centros) costuma compensar a diferença de rendimentos", diz Fernando Mantovani, diretor da Robert Half, consultoria de recrutamento de São Paulo.
Segundo especialistas, mesmo com o visível desenvolvimento das cidades médias, ainda é cedo para avaliar se haverá uma mudança demográfica no Brasil que proporcionará a queda da concentração de profissionais no Sudeste. Esse cenário pode acontecer, mas no longo prazo.
"O eixo Sul-Sudeste ainda concentra grande parte da população e dos números da economia, ainda mais se pegarmos um raio de 500 quilômetros a partir de São Paulo", diz Jefferson Mariano, técnico do IBGE. "O movimento migratório até acontece, mas o cenário não será revertido nos próximos 20 anos."
Consumo
"As cidades médias ainda não têm o mesmo poder de consumo dos grandes centros, mas o crescimento é constante e os consumidores são tão exigentes quanto os de cidades maiores", afirma Glaucio Binder, presidente da Federação Nacional das Agências de Propaganda.
Além disso, uma pesquisa do Boston Consulting Group estima que aproximadamente 5,3 milhões de famílias brasileiras deverão passar para a classe média, com renda mensal de 2.500 a 5.000 reais, até 2020 — e esse crescimento será mais expressivo longe dos grandes centros.
A expectativa é que as cidades com menos de 500.000 habitantes se tornem as responsáveis por cerca de dois terços do consumo brasileiro dentro de sete anos. Esse desenvolvimento acelerado também tem gerado oportunidades de emprego — tanto para a linha de frente da produção quanto para técnicos e gerentes.
Pensando nisso, a VOCÊ S/A mapeou as cidades médias brasileiras por região e, nas páginas seguintes, apresenta quais serão os profissionais mais requisitados em cada uma delas.
Santa Catarina reúne as principais cidades médias do Sul
Cinco das sete cidades médias que puxam o desenvolvimento na Região Sul estão em Santa Catarina. São elas: Balneário Camboriú, Palhoça, São José, Joinville e Itajaí. Cada uma delas com uma vocação diferente.
Em Itajaí, a força econômica vem do crescimento das atividades do porto de Itajaí. Em 2010, o complexo movimentou 954 000 TEU (unidade internacional equivalente a um contêiner de 20 pés), atrás apenas do porto de Santos.
Além da característica portuária, a cidade ainda abriga empresas de grande porte, como a BR Foods, que a escolheu como sede por causa da proximidade com o porto — essencial para a exportação de carnes e congelados.
No caso de Joinville, o que movimenta a economia é a indústria. A cidade é a mais industrializada de Santa Catarina e a que gera mais riquezas e retorno de ICMS ao estado, de acordo com dados da Secretaria da Fazenda divulgados em 2012. Por lá, há fábricas de empresas como Grupo Tigre, Fundição Tupy, Döhler e Whirlpool, que, no ano passado, aumentaram 10% sua capacidade produtiva na região, gerando 850 empregos diretos.
"Em Joinville, há procura por engenheiros e profissionais de finanças", afirma André Luiz Andrade, diretor da Asap. Até mesmo a pequena Palhoça, cidade da região metropo li tana de Florianópolis, passa por um ciclo de expansão sem precedentes, atraindo profissionais de turismo, marketing e, acima de tudo, empreendedores.
De 2005 a 2012, a cidade catarinense recebeu cerca de 7.000 novos empreendimentos, entre empresas de serviços e comércio, segundo a prefeitura.
Mineração gera empregos diretos e indiretos no Norte
Na Região Norte, o Pará é o estado cujo crescimento econômico foi o mais beneficiado pelas cidades com desempenho acima da média nacional. Quatro municípios — Parauapebas, Marabá, Castanhal e Marituba — tiveram crescimento médio do PIB de 234%. O número de empregos também vem crescendo em ritmo acelerado na região — 97% em cinco anos.
A principal responsável pelo desenvolvimento econômico das cidades médias é a mineração. Até 2016, a mineradora Vale vai expandir suas atividades na região da serra dos Carajás, no Pará, graças ao projeto de extração de minério de ferro Serra Sul.
Orçado em 19,7 bilhões de dólares, o investimento será o maior da história da mineradora brasileira e elevará sua capacidade de produção em até 230 milhões de toneladas anuais de minério de ferro. O projeto deve gerar 30.000 postos de trabalho durante as obras e 2 600 empregos permanentes, tanto nas áreas de operações quanto nas de engenharia e logística, movimentando a economia das vizinhas Parauapebas e Marabá.
Nessas carreiras, a remuneração varia de 8.000 a 25.000 reais, chegando a cifras mais altas nos cargos de direção. "Como é difícil encontrar profssionais qualifcados na região, o mais comum é atrair gente que atua no Sul-Sudeste com a oferta de salários agressivos", diz Marcelo Peixoto, diretor da Asap, consultoria de recrutamento, responsável pelas regiões Norte e Nordeste.
As atividades da Vale também devem trazer outros benefícios à região. "A empresa atrai investimentos do governo, como construção de
estradas, e emprega centenas de habitantes locais, que passam a ter mais poder de consumo", diz Peixoto da Asap.
Um sinal desse aumento do poder de consumo foi a inauguração em Parauapebas de estabelecimentos como o Unique Shopping, com 126 lojas, cinema e hipermercado — alimentando o ciclo de desenvolvimento na região.
As outras duas cidades destacadas no estudo do Ibope, Castanhal e Marituba, tiveram seu desenvolvimento associado ao setor de serviços, que tem ficado mais especializado com o aumento da renda da população. Em Castanhal, situada a apenas 65 quilômetros de Belém, o setor de serviços gerou 608 postos de trabalho em 2012. Em 2015, a cidade inaugurará seu primeiro shopping.
Como o empreendimento tem acesso fácil pela BR-316, a expectativa da MB Malls, responsável pela construção, é que pelo menos 20 cidades sejam impactadas pelo shopping, que deve gerar 800 empregos.
Consumo e indústria movimentam setor de serviços no Nordeste
No Nordeste, a Bahia é um dos estados com o maior número de cidades médias citadas no estudo do Ibope. Os destaques são os municípios de Feira de Santana, Lauro de Freitas e Vitória da Conquista, cujo setor de serviços está aquecido, embalado pelos programas sociais que aumentaram o poder de consumo dos nordestinos.
Em Feira de Santana, a 109 quilômetros de Salvador, onde estão instaladas fábricas de grandes empresas, como Nestlé e Pepsico — inauguradas em 2007 e 2011, respectivamente —, desenvolveu-se um próspero mercado para companhias que prestam serviços especiais.
É o caso do Grupo Lwart, especializado em reciclagem de lubrifcantes. A planta de Feira de Santana é uma das mais importantes da empresa, que tem unidades em todo o país e sede em Lençóis Paulista, em São Paulo. "A localização de Feira de Santana é estratégica.
A cidade, chamada de portal dos sertões, fica perto do Sudeste, próxima de rodovias importantes e do mar", diz Thiago Trecenti, diretor- geral do Grupo Lwart.
A empresa aumentou 10% a capacidade produtiva da planta de 2011 a 2013 e pretende dobrar a coleta de óleo da região nos próximos anos. A rede de supermercados Assaí Atacadista, do Grupo Pão de Açúcar, inaugurou sua primeira loja na cidade em outubro, gerando 250 empregos diretos e 250 indiretos.
"Feira de Santana tem a importância e o potencial de consumo de uma capital, por isso foi nosso primeiro passo para entrar no interior do Nordeste", afirma Belmiro Gomes, presidente da rede.
A construção civil também está em alta. Neste ano, a construtora Damha Urbanizadora lançou dois empreendimentos residenciais no primeiro semestre em áreas de 500.000 metros quadrados — e vendeu 600 unidades em 30 dias.
"Isso mostra o potencial econômico da cidade. Estamos em busca de outros terrenos para empreendimentos privados", diz José Paranhos, diretorsuperintendente da Damha Urbanizadora Agroinno.
No sudeste, o pré-sal, a indústria naval e os portos aquecem a economia
Com a exploração do pré-sal, as cidades fluminenses de Cabo Frio, Itaguaí, Macaé e Rio das Ostras tiveram seu desenvolvimento acelerado pelas áreas de petróleo e gás. Só em Rio das Ostras o emprego cresceu 140% de 2005 a 2011, impulsionado pela exploração de petróleo na região.
"No longo prazo, a prospecção de petróleo será a principal atividade econômica nessas cidades”, diz Jefferson Mariano, tecnologista em informação geográfica e estatística do IBGE. Com isso, engenheiros, geólogos e petrofísicos continuarão em alta. "A demanda por esses profissionais vai crescer ainda mais com a exploração do campo de Libra", diz Fernando Mantovani, da Robert Half.
O petróleo e a indústria naval também estimulam atividades correlatas. Em Macaé, por exemplo, a GE Oil & Gas ampliou sua unidade em 2012 e triplicará a produção, com base em serviços de manutenção, inspeção, instalação e operação de equipamentos usados pelas petroleiras.
Em Itaguaí e Macaé, o desenvolvimento ocorre por causa dos portos. O de Itaguaí movimentou 23,4 bilhões de dólares em 2012, segundo a Companhia Docas do Rio de Janeiro, e abre espaço para empresas de logística.
Para 2014, estão previstas ampliações dos terminais e a inauguração de outro porto na cidade: o Superporto Sudeste, da MMX (Eike Batista vendeu 65% do porto para as empresas Trafigura e Mubadala, que assumirão o controle das operações).
Em Macaé, o porto de Imbetiba também é crucial para a economia local, movimentando 6,8 bilhões de dólares. Lá, há oportunidades para especialistas em logística e supply chain. "Como o crescimento econômico dessas regiões é muito grande, há o incentivo para comércio e serviços, e esses locais se tornam ótimos para empreendedores", diz Juliano Ballarotti, diretor da Hays.
A indústria se destaca no cenário do agronegócio
No Centro-Oeste, região conhecida pelo agronegócio, a indústria e o setor de serviços são os destaques da economia das principais cidades médias: Anápolis, Aparecida de Goiânia e Valparaíso de Goiás.
A que mais cresceu, segundo o levantamento do Ibope, foi Anápolis, que elevou o PIB 295% de 2004 a 2010. Seu Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia) — segundo polo farmoquímico do Brasil, atrás de São Paulo — viu sua produção crescer ininterruptamente por causa da expertise na fabricação de medicamentos genéricos, mais baratos.
No local, há 20 indústrias farmacêuticas, como o laboratório Teuto Brasileiro, que empregam mais de 10.000 pessoas, de acordo com a prefeitura. A indústria automobilística também marca presença no município.
A coreana Hyundai ampliou sua produção de caminhões em 2011 com um novo modelo, o caminhão HD, que suporta 7 toneladas. No ano passado, a planta de Anápolis começou a produzir os carros do modelo iX35, antes importado pelo Brasil. Para isso, a montadora investiu 100 milhões de reais e contratou mais de 200 funcionários.
"A região atrai as montadoras pela localização central e pelos incentivos governamentais", afirma Carla Budin, da Asap.
Interior paulista: infraestrutura e incentivos fiscais atraem empresas
Nos últimos anos, o interior paulista tem atraído a instalação de várias indústrias graças a dois pontos principais: incentivos fiscais e ótimo aparato logístico, com boas estradas e aeroportos. É o caso da Honda, que, no início deste ano, transferiu toda a sua base administrativa para Sumaré, onde já tinha uma fábrica. A ideia é reunir num mesmo espaço a área gerencial e o chão de fábrica.
As novas instalações devem ficar prontas em 2014. "Neste mês, haverá a inauguração do centro de pesquisa e desenvolvimento da Honda, um dos principais laboratórios fora do eixo Japão-Estados Unidos, o que permitirá o desenvolvimento local de produtos para o mercado brasileiro", diz Paulo Takeuchi, diretor de relações institucionais da Honda South America.
No estudo do Ibope, oito cidades do interior paulista se destacam entre as médias: Cotia, Guarulhos, Hortolândia, Itapevi, Jundiaí, Sumaré, Pindamonhangaba e Sertãozinho. A renda gerada nessas áreas, altamente industrializadas, impulsiona o setor de serviços, com um aumento na demanda por hotéis, restaurantes e shopping centers — muitos dos novos moradores dessas cidades médias migram a trabalho e estavam acostumados com os serviços dos grandes centros.
"O setor de serviços cresce para atender à demanda dos profissionais de São Paulo que, em busca de qualidade de vida, procuram empregos em locais mais tranquilos", diz Fernando Mantovani, da Robert Half.A indústria e os serviços também estão por trás do desenvolvimento das três cidades médias que lideram o crescimento de Minas Gerais: Betim, Pouso Alegre e Ribeirão das Neves.
Em Betim, está instalada a maior fábrica da Fiat no mundo. Nos últimos anos, a unidade se beneficiou do aumento da renda da população brasileira e dos incentivos à indústria automobilística. A fábrica produz hoje 800.000 unidades anuais e planeja elevar sua produção para 950.000 unidades em 2014.
Em março, o parque industrial de Betim recebeu uma unidade de fabricação de transformadores da Toshiba, que deve gerar 280 empregos diretos e 900 indiretos. Em Pouso Alegre, a Unilever inaugurou neste mês seu novo centro de distribuição. A planta tem 80.000 metros quadrados e já gerou 800 empregos diretos e indiretos.
De 2014 a 2015, outras 300 vagas serão abertas. O objetivo da empresa é dar mais agilidade à distribuição de produtos alimentícios, de higiene e beleza para Minas Gerais, Rio de Janeiro e, eventualmente, cidades do Nordeste e do Sul. "As estradas são excelentes e há proximidade com São Paulo, o que torna o local atraente", afirma José Negrete, vice-presidente de supply chain da Unilever.
FONTE: exame.abril
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