Quando começamos a andar, tropeçamos e caímos, mas por continuarmos a tentar andar, deixamos nossos músculos tão inteligentes ao ponto de não pensarmos mais em como se faz para andar. Daí começamos a correr até que o movimento da corrida se torne tão natural para nós que não precisemos mais pensar sobre isso. Depois vem correr com obstáculos, andar de skate, bicicleta, patins, patinete, etc. Coisas que toda criança faz e poucos adultos continuam a fazer. Desafiar-se, sair da zona de conforto, enfrentar-se, desejar.
Ontem meu professor de jiu-jitsu me convidou para participar do próximo campeonato desse esporte e não consegui dar prontamente o meu sim para o convite porque estava com um conflito interno de desejo e medo. Desejo porque talvez fazer algo novo seja o natural do seu humano e medo porque sair da zona de conforto é algo para o qual não fomos domesticados. Mergulhei nessa questão durante o dia e à noite confrontando o comportamento atual com aquele da infância para compartilhar com você nas linhas a seguir as razões por trás da nossa incapacidade de construir nossa própria vida.
1. Temos medo do desconhecido
Eu tenho certeza que o estado de Minas Gerais que conheci nos livros da escola é totalmente diferente da realidade assim como o Rio de Janeiro que conhecemos através da novela é diferente do que acontece realmente naquela cidade. No entanto, nos sentimos confortáveis por conhecer algo intelectualmente antes de experienciá-lo porque na experiência existem perdas, feridas e dores.
Esse é o motivo pelo qual vários empreendedores continuam presos dentro de cargos e salários ao invés de tendo experiências na rua. É o universo mais confortável, conhecido e mais aceito pela maioria.
2. Precisamos de aprovação externa
Cada pessoa é única neste mundo, mas a sociedade encaixota seres humanos dentro de classificações, séries e profissões removendo tudo o que nos torna único para nos padronizar. O resultado, você já deve saber. Apesar do número de aprovados na escola ser maior que o número de reprovados, na vida, o oposto é mais verdadeiro. A maioria das pessoas estão insatisfeitas com as suas escolhas pessoais e profissionais e vivem a vida em busca de aprovação externa das decisões que tomam.
É por isso que a maioria toma decisões como a maioria e poucos buscam os atalhos no sistema para escapar. Tomar uma decisão que vai contra a criação dos seus pais o modus operandi dos seus amigos requer muita tenacidade para lidar com os seus próprios erros e não dar um passo atrás.
3. Queremos ter controle das situações
Nossa vida é totalmente instável. Nossos corpos são tão fortes a ponto de construir casas, mas tão frágeis ao ponto de morrer por causa de uma queda de mal jeito ou a ingestão de algo estragado. Mesmo com toda essa instabilidade e imprevisibilidade, real na vida de todos nós, insistimos em controlar as situações e evitamos tudo o que traz incerteza.
Com a insuficiência de educação de qualidade e pulverização do marketing este problema se tornou ainda pior. A sociedade mal informada continua seguindo o caminho que lhe apontaram como o certo, o de maior controle, empobrecendo suas vidas não só financeiramente, mas principalmente pessoalmente. São milhões de pessoas com cada vez menos poder pessoal.
4. Encaramos a vida como uma competição
Ninguém entra em nada para perder. A maioria das pessoas podem até empurrar a vida com a barriga, mas dentro delas, elas sempre querem ganhar dos outros. Fomos educados para isso e o nosso sistema de sociedade é baseado na competição. Queremos ganhar dos outros, mesmo se fazemos aquele discurso bobo de bom competidor.
Sempre estamos preocupados em ultrapassar e por isso não crescemos juntos. Todos nós nos separamos, corremos para lá e para cá, cada um para salvar a sua vida e a vida da sua família e os outros que se virem. Geramos desigualdade social e depois construímos muros cada vez mais altos para as nossas casas.
Quando recebi o convite para competir e sair totalmente da minha zona de conforto, senti medo por não saber o que ia acontecer e aflição por não querer passar vergonha e, é claro, ganhar. No entanto, mergulhando nessas questões que descrevi acima consegui me desfazer dos sentimentos que elas me traziam para me apegar a realidade de que eu iria aceitar o convite para experimentar e provar mais uma vez para mim que tudo é possível. Chegar a essa conclusão me motivou como nunca e tirou o peso do desconhecido, da aprovação, controle e competição das minhas costas dando lugar a um sentimento de realização por estar simplesmente realizando.
Quando começamos um namoro não imaginamos que ele vá dar errado. Começamos a namorar pelo gosto de namorar, beijar e sentir. Então de que serve a vida senão para experimentar? E por que não experimentar empreender, dar voz para a sua vocação, para aquilo que faz seu coração bater todos os dias?
É possível que alguém sem qualquer experiência passada em esportes de luta participe de uma competição. É possível que alguém que foi vítima de bullying na escola quando esse termo nem existia encare um oponente desconhecido na frente de um ginásio cheio de olhares. É possível abrir uma empresa com praticamente nenhum investimento e viver do seu sustento trabalhando a partir de casa. É possível mudar de cidade sem dinheiro no bolso. Enfim, é possível fazer o impossível.
Todos os dias, nós empreendedores, que estamos à frente de uma empresa, atrás de um emprego ou mesmo desempregados e sem trabalho, carregamos os mesmos sentimentos porque somos humanos antes de tudo. Temos medo da incerteza, da exposição à crítica e da perda. Mesmo depois de termos aprendido a correr e se equilibrar em duas rodas sobre uma bicicleta, o medo é maior que o desejo de viver a nossa própria vida, infelizmente. Espero que você tenha entendido a mensagem.
Eu acredito que impossível é uma palavra que define algo que ainda não foi feito, mas que podia ter sido. E você?
FONTE: insistimento
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