quarta-feira, outubro 2

Startup: CataMoeda

Empresa propõe resolver problema da falta (ou sobra) de moedas com “cofrinhos gigantes” em estabelecimentos
Após vender sua empresa bem-sucedida nos Estados Unidos, o executivo Victor Levy resolveu tirar três anos e meio para viajar pelo mundo e buscar inspiração para um novo negócio. Esboçou algumas ideias, mas sem bater o martelo. Logo ao retornar o Brasil, em 2008, fez um saque no caixa eletrônico do aeroporto e correu para a cafeteria para matar uma saudade: cafezinho com pão de queijo. A atendente se desculpou e afirmou não ter troco para a nota. Foi a confirmação de que Levy precisava: queria criar uma maneira de resolver o problema da falta (ou sobra) de moedas.
Com muita pesquisa, testes e quatro rodadas de investimento, a CataMoeda, fundada em Santa Catarina, foi lançada numa rede de supermercados de Curitiba, em maio deste ano. A startup de Levy e outros dois sócios fabrica “cofrinhos gigantes” – máquinas de depósito de moedas, a fim de estimular sua circulação. Em teste há alguns dias, o serviço estreia oficialmente em São Paulo neste fim de semana, no empório Águas Petrópolis, zona sul de São Paulo.
FOTO: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO
Ao depositar suas moedas na máquina, que realiza o cálculo em poucos segundos, o cliente recebe um cupom com a quantia equivalente para gastar na loja e mais um bônus de 5% – que pode ser somado ao crédito ou doado para uma instituição de caridade escolhida pelo estabelecimento. Até o momento, nas quatro máquinas em operação, foram captadas mais de 285 mil moedas.
“A falta de moedas é uma questão de extrema ineficiência na qual todo mundo sai perdendo”, afirma Levy. Segundo dados do Banco Central de 2012, 27% das moedas acabam fora de circulação – perdidas ou esquecidas em cofres –, um montante equivalente a R$ 508,3 milhões. Para repôr essa quantia, o governo teria de gastar cerca de  R$ 1,1 bilhão.
“O governo gasta com a fabricação e boa parte das moedas deixa de circular. O estabelecimento do varejo fica sem troco e precisa pedir carro-forte de última hora – e paga caro por isso. O consumidor acaba sendo lesado muitas vezes e recebe o famoso ‘troco em balinhas’”, diz o cofundador.
Ele afirma que a importância das moedas se deve ao fato de que, apesar do crescimento do cartão, o dinheiro ainda ser a forma de pagamento mais utilizada. “De acordo com pesquisa do BC, 72% das pessoas usam mais o dinheiro como meio de pagamento. Isso porque 55% da população brasileira recebe em espécie e porque o cartão ainda não chegou a todos os estabelecimentos, por causa das taxas”, diz.
“Com a nossa solução, o cliente passa a valorizar mais a moeda, pois sabe que, se agrupá-las e não deixá-las paradas, receberá um benefício. Isso atrai consumidores ao estabelecimento, pois muitas vezes o banco hesita em realizar a troca porque dá trabalho, e ele não tem onde levá-las”, afirma. Segundo ele, nos supermercados Condor, rede líder em Curitiba, os cupons da máquina já são responsáveis por 2% das vendas.
Simples e lúdico. A inspiração de Levy foi a empresa norte-americana Coin Stop, que também capta o níquel. No entanto, ele afirma que buscou com sua máquina trazer uma experiência mais simples e lúdica ao usuário, além de permitir que os próprios estabelecimentos possam fazer a coleta direta das moedas. A loja parceira paga uma taxa mensal à empresa, que oferece manutenção e atualizações do programa.
A criação do “cofrinho gigante” rendeu à CataMoeda quatro patentes nacionais. “A ideia inicial nem era montar uma máquina, mas apenas criar um software que pudesse facilitar a experiência para o usuário. Mas, como não havia nada parecido aqui, tivemos de começar do zero”, conta Levy.
Para ele, que criou sua própria empresa nos Estados Unidos, ser empreendedor no Brasil ainda é muito difícil. “Aqui você quase não tem incentivos e arcabouços legais, mas uma série de barreiras. Você precisa decidir se vai colocar o seu patrimônio em risco e apostar num negócio de alta tecnologia no qual o Brasil não tem tradição; se vai largar uma posição de prestígio para ficar pregando parafuso em um protótipo. É preciso ter muita persistência e ir fazendo adaptações ao longo do caminho”, afirma.
O primeiro investimento para fazer a ideia sair do papel veio de um dos sócios, que entrou com R$ 75 mil. A partir daí, foram angariando outros investidores-anjo, totalizando R$ 700 mil. Em janeiro, a recebeu um aporte de R$ 1,8 milhão do Fundo Santa Catarina.
Planos. A meta agora é instalar cinco máquinas em estabelecimentos do varejo nos próximos dois anos. “Já estamos com uma negociação grande em Florianópolis. A ideia é atacar o Sul para depois para depois partir de fato para São Paulo”, diz. Para atingir o objetivo, a empresa estuda novas formas de receita, como publicidade na tela da máquina.
Outro plano é possibilitar novas formas de o cliente utilizar o bônus da troca, como receber crédito fragmentado no celular e a poupança patrocinada – o cliente deposita seu crédito diretamente em sua conta sem precisar ir ao caixa eletrônico, mediante operação de um banco patrocinador.


FONTE: blogs.estadao

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