Inovação, em boa parte capitaneada pela Embrapa, quadruplicou a produção de commodities como o milho em 20 anos. Mas é preciso continuar a evoluir para não ficar para trás
"Não há no mundo, na zona tropical, nada parecido com o que fizemos (com a agricultura) aqui",
diz Marcos Jank, da BRF
Nos últimos 40 anos, o Brasil deixou de ser um país dependente para ser provedor de alimentos para o mundo. Essa mudança foi em grande parte possível graças a uma revolução tecnológica liderada por uma empresa pública, a Embrapa.
O resultado do ganho de eficiência proporcionado pela tecnologia fica visível nos ganhos de produtividade no campo.
Em 1990, o Brasil produzia 20 milhões de toneladas demilho em uma área de 12 milhões de hectares. Hoje, o país produz quatro vezes mais em apenas 7 milhões de hectares.
"Eu destacaria a decisão brasileira de construir o conceito de agricultura baseada em ciência. Não tínhamos um modelo de agricultura moderna no setor de agricultura tropical. Construímos esse setor, investimos em criar e fortalecer instituições como a prórpria Embrapa, enviamos milhares de profissionais para o mundo todo para superar os problemas da região tropical", afirma o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes.
Lopes participou na manhã desta quinta-feira de um seminário promovido sobre a economia brasileira promovido pela revista britânica The Economist.
Marcos Jank, diretor global de assuntos corporativos da BRF, também presente no debate, falou sobre como a agroindústria brasileira é admirada no exterior.
"Somos admirados no mundo todo por essa revolução que fizemos. Não há no mundo, na zona tropical, nada parecido com o que fizemos aqui. Um grão de soja que produzimos contém uma quantidade imensa de indústria e tecnologia", disse Jank.
Ele destacou ainda outros fatores que ajudaram nessa revolução da agricultura, como a desregulamentação da abertura comercial. "Com a abertura, nós tivemos que competir globalmente, isso estimulou a competitividade e a produtividade," disse.
Além disso, com propriedades maiores, a produção ganhou escala. "O movimento migratório do Sul para o Centro-Oeste ajudou nisso. Os pequenos produtores foram para o Centro-Oeste em busca de terras maiores e fizeram a revolução. Foi gente capacitada que migrou e construiu uma agricultura de alta produtividade.
Papel do setor público
A Embrapa é vista hoje em dia como uma das poucas instituições públicas que atuam mais para ajudar do que atrapalhar o setor com a qual se comunica. Maurício atribui isso à forma de ação do órgão.
Nessa linha de frente, destaca-se o trabalho de pesquisa que, segundo o presidente da Embrapa, gera conhecimento e tecnologia, dentre as quais pesquisas que transformaram os solos ácidos do cerrado em solos férteis, além de tropicalizar cultivos que não eram adaptados ao Brasil, como o da soja da Ásia.
Futuro
Marcos Jank, da BRF, afirma que a burocracia da máquina pública é o que emperra um novo ciclo de inovações tecnológicas. "A coisa não anda na velocidade que deveria, são sete anos para aprovar uma nova tecnologia", afirma.
Além disso, todo o progresso feito em termos de produtividade emperra nos problemas de infraestrutura do país. Segundo Jank, 60% dos grãos produzidos saem por apenas dois portos - sendo que a produção fica a 1.500 km deles.
"A agricultura fez o seu papel, dobrou em termos de safra, mas a infraestrutura não acompanhou este salto", diz.
Os acordos comerciais entre países são outra preocupação do setor. De acordo com Maurício, há uma assimetria entre o crescimento populacional de cada país e sua capacidade de produção, o que significa que o alimento vai ter que transitar pelo mundo, porque as regiões onde a população vai crescer mais não têm capacidade de produção para atender essa nova demanda.
"A agricultura brasileira precisa estruturar seu posicionamento no mercado internacional levando em conta essa assimetria entre população e produção, é uma grande oportunidade", afirma Maurício. da Embrapa.
FONTE: exame.abril
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