terça-feira, novembro 25

Pouca participação de instituições brasileiras é alvo de crítica no programa de construção do SGDC

A principal divergência está relacionada aos benefícios que podem ser gerados pelo modelo de implantação do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC-1)


O que era para ser uma audiência pública para tratar do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC-1) se transformou em debate sobre o programa de implementação do equipamento. Representantes de todas as áreas envolvidas com o projeto apresentaram pareceres sobre a proposta por quase três horas, nesta terça-feira (18), no Senado Federal.
Criada há dois anos por iniciativa do Governo Federal para estimular a criação de uma empresa integradora na indústria espacial, a Visiona Tecnologia Espacial, joint venture entre a Telebras e a Embraer, tem como uma das suas principais prerrogativas o fomento à indústria.
O primeiro projeto da companhia é a integração do SGDC, satélite que tem como missão ampliar o acesso de internet banda larga no território nacional e prover meios para comunicações estratégicas do governo. Neste papel de integradora, a Visiona selecionou para o fornecimento do satélite a empresa franco-italiana Thales Alenia Space e para a realizar o lançamento do equipamento a francesa Ariane Space.
No contrato assinado, está prevista a absorção e transferência de tecnologia das companhias estrangeiras, o que segundo a empresa brasileiras fortalecerá a indústria espacial nacional e representa investimento da ordem de R$ 1,3 bilhão a ser executado até o fim da proposta. Atualmente, 27 profissionais brasileiros, de diferentes instituições do País, estão na França, trabalhando diretamente no projeto, com objetivo de ter a melhor capacitação possível.
Apesar de parecer um bom negócio para o País, especialmente para o setor produtivo,  na visão do presidente do Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial (SindCT), Ivanil Barbosa, a construção do SGDC não beneficia a indústria nacional. Ele explica que a o projeto atual do programa de desenvolvimento do satélite não inclui as entidades responsáveis por tocar o Programa Espacial Brasileiro (PEB).
Em três décadas de desenvolvimento espacial, entregamos poucos satélites e nenhum lançador. A integração de clientes deste satélite geoestacionário é um campo. A integração do satélite em si, é uma coisa completamente diferente, e nisso a Visiona não avança. Ela contratou até a especificação desse satélite de uma empresa canadense, sem a participação do Inpe [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais], que, com 53 anos de experiência nessa área, ficou completamente alijado deste processo. Até mesmo o sistema de transferência de tecnologia em que estes profissionais estão lá na França, por pouco não teria profissionais do Inpe. Isso criou um desconforto”, argumentou.
Para validar a sua opinião, Barbosa cita o exemplo da Argentina, que recentemente colocou em órbita o satétite geoestacionário de telecomunicações Arsat-1, o primeiro modelo desenvolvido com tecnologia própria. “Este,sim, fomentou toda a cadeia produtiva daquele País”, afirmou.
No caminho contrário, ressalta o sindicalista, estaria o Brasil, que exclui as empresas nacionais deste processo. Ele citou o caso da OPTO Eletrônica, empresa nacional que ficou responsável pelas câmeras de alta resolução, um equipamento de alto valor agregado, que era carga útil no Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (Cbers-3). A instituição, que até pouco tempo atrás tinha suas atenções direcionadas à área espacial, e hoje precisa encontrar outros mercados para não fechar as portas.
“Aí coloco a situação da OPTO, que fabricou o instrumento mais sofisticado espacial brasileiro e, recentemente,  demitiu 30 dos seus 64 servidores, e agora está concentrando seus esforços para a produção de artigos médicos para sobreviver. Antes, a área espacial representava 60% da sua receita e hoje é de 40%”, pontuou o presidente do SindCT.
Toma lá, dá cá
Em contraponto à ideia de Barbosa, o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Coelho, acredita que a chegada da Visiona permitirá a consolidação da indústria aeroespacial do País. Segundo ele, o conceito utilizado pela empresa é mundialmente conhecido e aprovado e o contrato assinado de transferência e absorção de tecnologia possibilitará a geraração uma força de trabalho qualificada, capaz de atender as diversas necessidades da nação.
“Hoje, temos clientes que impõem condições de ordem financeira e de prazo de entrega para a construção de satélites. O SGDC é um desses exemplos. Os ministérios da Defesa e das Comunicações se posicionaram com foco em cima, por exemplo, de tempo”, lembrou Coelho.
O presidente da AEB também negou que a criação da Visiona vá diminuir a importância dos órgãos que executam o PEB. “O conceito universal que trouxemos para utilizar no Brasil não é de prime contractor, como se usa aí fora, é de integradora no sentido da responsabilidade que esta empresa tem, a partir de agora, de integrar a indústria nacional, junto com o Inpe, com a AEB, com o DCTA [Departamento de Ciência e Tecnologia da Aeroespacial], com todos os órgãos de governo”, elucidou.
Poderia ser melhor
Sem querer entrar em polêmica, o diretor do Inpe, Leonel Perondi, concorda o processo de desenvolvimento do SGDC. Ele explica que, pela complexidade do projeto, o País não estaria capacitado para entregar o equipamento no prazo estabelecido. O dirigente, no entanto, destaca que o governo poderia utilizar o seu poder de compra para alavancar programas nacionais.
“A ideia da compra está correta. Mas o que poderia ser implementado, e já fizemos isso antes, é ao mesmo tempo que fazemos uma compra, encomendar da indústria nacional um sistema semelhante, mais simples, que o País já tem capacidade para produzir”, informou Perondi.
Cronograma atrasado
Mesmo se tratando de um fato fundamental a ser tratado, o atraso da entrega do satélite não povoou muito o debate. Programado para ser lançado este ano, a primeira fase de desenvolvimento do satélite foi concluída recentemente. A etapa seguinte será a revisão crítica do projeto, a ser feita com os fornecedores do satélite (Thales Alenia) e do lançador (Ariane Space) no dia 19 de dezembro, na França. No meio de 2015, está previsto o início da instalação dos equipamentos e das antenas. A previsão para a operação de lançamento é outubro de 2016.


FONTE: Agência Gestão CT&I

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