De acordo com pesquisa da Universidade de Washington, a concorrência só funciona como estímulo à inovação para os homens. As mulheres preferem a colaboração
Inovação: estimular disputas nem sempre traz bons resultados para novos projetos
Estabelecer a competição entre grupos e oferecer incentivos
(financeiros ou não) como recompensa é uma ferramenta muito usada por
empresas na tentantiva de melhorar a performance dos funcionários.
Porém, uma pesquisa recente da Universidade de Washington sugere que essa estratégia pode ser uma furada, especialmente se a equipe em questão for majoritariamente feminina e o trabalho exigir inovação.
De acordo com o material, publicado em junho no jornal científico
Organization Science, times formados por mais mulheres do que homens
perdem em criatividade na medida em que a concorrência com outros grupos
aumenta.
O estudo foi feito em duas etapas. Na primeira, 360 estudantes de
graduação de uma grande universidade foram divididos em 90 times de
quatro integrantes. Alguns deles eram compostos metade por homens e
metade por mulheres, outros tinham mais homens do que mulheres e
vice-versa.
A cada time, foi dada a missão de desenvolver um plano para tornar a
universidade mais atrativa para futuros estudantes. O objetivo era
conseguir a proposta mais criativa possível.
Foram estabelecidos, então, três níveis de competição. No primeiro,
cada participante da equipe receberia 1 dólar (4 dólares, no total) e
teria sua proposta encaminhada à faculdade se o grupo conseguisse ficar
entre os 50 mais criativos.
No segundo, a recompensa seria de 10 dólares por pessoa (40 dólares, no
total) se o time ficasse entre os 10 melhores. E, no terceiro, o prêmio
poderia chegar a 100 dólares por indivíduo (400 dólares, ao todo), se o
grupo fosse o único vencedor, o mais criativo de todos.
Para definir os vencedores, a colaboração do time e a criatividade da
sugestão eram levadas em conta. Esses indicadores foram medidos e
combinados por critérios matemáticos desenvolvidos pelos pesquisadores.
As descobertas foram curiosas. Enquanto nos grupos formados somente ou
majoritariamente por homens a criatividade aumentou conforme o nível de
competição foi elevado, em grupos formados exclusivamente ou na maior
parte por mulheres os efeitos sobre a criatividade foram negativos na
medida em que a concorrência ficava mais acirrada.
Essas tendências, mais tarde, foram testadas em uma segunda etapa: um
estudo de campo realizado em uma empresa global de óleo e gás. Foram
analisadas 64 equipes compostas basicamente de cientistas, engenheiros e
técnicos dessa companhia. Esses grupos eram responsáveis por uma série
de atividades de desenvolvimento e pesquisa que envolviam bastante criatividade.
Por meio de dados arquivados pelo RH da empresa foi possível
identificar o tamanho e a variação de genêro das equipes (o número de
funcionários em cada time variou entre quatro e 26 e o percentual de
homens por grupo ficou entre 5% e 100%). Já o nível de colaboração e
criatividade foi medido após análises de questionários respondidos por
representantes dessas equipes.
Ao cruzar as informações, foram encontrados resultados parecidos com os
da fase anterior: os efeitos positivos da competição sobre a
criatividade foram encontrados em times com maior porporção de homens e
os efeitos negativos em grupos com mais mulheres, mas somente quando a
concorrência era elevada aos mais altos níveis.
Na prática
De acordo com a pesquisa, estabelecer a competição como forma de estimular a inovação e o surgimento novos projetos em uma empresa é uma faca de dois gumes.
Segundo aponta a publicação, além de ser relativa (porque funciona para
alguns grupos, mas não para outros), a concorrência pode ainda
representar uma perda de oportunidade no ambiente corporativo. Isso
porque as mulheres representam "uma parcela cada vez mais crescente da
força de trabalho" e são naturalmente mais criativas em ambientes
colaborativos e pouco competitivos.
Porém, não é cabível dizer que elas são menos criativas do que os
homens, segundo o professor Markus Baer, um dos autores do estudo.
Quando os times precisavam trabalhar juntos, sem concorrer uns com os
outros, aqueles com mais mulheres se saíam melhor do que os
predominantemente masculinos.
"Aparentemente, as mulheres aderem a comportamentos que estimulam a
criatividade em grupo (ou seja, por meio da colaboração) mais
naturalmente que os homens. É por isso que elas tendem a se sair melhor
que eles quando os times estão trabalhando lado a lado, sem competição",
disse o pesquisador em entrevista a EXAME.com.
Ele reforça também que o estudo em nenhum momento sugere que as
mulheres são piores competidoras do que os homens, mas sim que os
estereótipos de gênero ainda existem e influenciam comportamentos.
"As pessoas não esperam que as mulheres se saiam bem em circunstâncias
competitivas e, por isso, grande parte do público feminino pensa que não
está mesmo apta a conseguir bons resultados sob essas condições. Essas
crenças fazem com que as mulheres se desliguem de suas tarefas,
colaborem menos e, por fim, sejam menos criativas".
Como agir?
De acordo com Baer, para conseguir extrair o máximo de criatividade de seus funcionários, gestores precisarão trabalhar com o equilíbrio.
"A competição só é realmente devastadora para a criatividade de equipes
femininas quando ela se torna extremamente acirrada. E, para os homens,
ela funciona muito bem. Então, eu sugeriria balancear a concorrência
com a colaboração entre times para amenizar os efeitos negativos",
aconselhou o professor.
"Uma alternativa, por exemplo, é forçar os times a compartilhar uns com
os outros algumas ideias que eles tiverem, mesmo que eles estejam
copetindo entre si por um prêmio global", completou.
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