terça-feira, agosto 27

Trajetórias reconstruídas: a trajetória de ex-bolsistas de iniciação científica, mestrado e doutorado financiados pela FAPESP

Uma pesquisa que analisou o perfil e a trajetória de ex-bolsistas de iniciação científica, mestrado e doutorado de universidades e instituições paulistas, financiados pela FAPESP e por outras agências de fomento entre 1995 e 2009, identificou quatro grupos distintos de estudantes, de acordo com renda, família e formação.
O primeiro deles é composto predominantemente por pessoas das classes D e E, oriundas de escolas públicas e famílias de tamanho médio, e que fizeram iniciação científica. Já o segundo reúne pessoas das classes A e B, que frequentaram escolas privadas no Estado de São Paulo e também fizeram iniciação científica.
O terceiro é composto por alunos da classe A, oriundos do Norte e do Nordeste e com início acadêmico no mestrado. E o quarto, de indivíduos das classes C e D, com início acadêmico também no mestrado e pais com baixa escolaridade.
O achado é um dos resultados de um projeto de pesquisa, financiado pela FAPESP e concluído recentemente, que avaliou em profundidade três programas da Fundação: o de bolsas de iniciação científica, mestrado e doutorado; o programa Biota-FAPESP, de caracterização da biodiversidade paulista; e o Equipamentos Multiusuários (EMU), que propicia a compra de equipamentos de custo elevado que possam ser utilizados por pesquisadores de várias instituições.
Os ex-bolsistas da FAPESP provêm predominantemente dos grupos 1, 2 e 3, explica Sergio Salles-Filho, responsável pela avaliação e coordenador do Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (Geopi), vinculado ao Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A avaliação do programa de bolsas baseou-se na comparação entre um grupo que recebeu bolsas da FAPESP entre 1995 e 2009 e um grupo de controle composto por indivíduos que receberam o benefício de outras agências. Utilizando as bases de informação da FAPESP e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), os pesquisadores da Unicamp enviaram e-mails a 39.765 ex-bolsistas de iniciação científica, mestrado e doutorado.
Eles foram convidados a responder um questionário que, para facilitar, já estava parcialmente preenchido com informações colhidas na plataforma Lattes e também nas bases utilizadas. O número de respostas chegou a 12.343.
“É certo que a amostra tem um viés, que é a dificuldade de ter acesso a bolsistas que encerraram sua trajetória acadêmica na iniciação científica e não têm cadastro atualizado nas bases de dados consultadas”, afirma Salles-Filho, que também é coordenador adjunto de programas especiais da Diretoria Científica da FAPESP.
A avaliação traçou um panorama sobre a origem e o destino de ex-bolsistas, mostrando, por exemplo, que eles provêm de estratos diversos – houve quantidades expressivas de estudantes de todas as classes sociais – e, embora a maioria deles se concentre no estado de São Paulo depois de formada ou titulada no mestrado e doutorado, há um contingente razoável que vai trabalhar em outros estados.
Em 2011, 32% dos recursos desembolsados pela FAPESP financiaram bolsas – as de iniciação científica, mestrado e doutorado foram responsáveis por 87% do número de bolsas contratadas no país.
Os perfis característicos dos bolsistas emergiram de questionários como o respondido por Carlos Alberto Moreno Chaves, 30 anos, doutorando em Geofísica pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP). Filho de um jornaleiro, sempre estudou em escolas públicas.
Desde 2006, quando fazia graduação no IAG, é bolsista da FAPESP, primeiro de iniciação científica, depois de mestrado e agora de doutorado, sob a orientação da professora Naomi Ussami. “Como sempre estudei em tempo integral, me mantive graças às bolsas da FAPESP. Recentemente até me casei”, afirma ele, que chegou a trabalhar como montador de móveis quando se preparava para o vestibular – entrou na USP na segunda tentativa.
 

FONTE: FAPESP

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