domingo, outubro 6

Aposentados em alta no mercado de trabalho

Diante de um apagão de talentos, empresas apostam na sabedoria e no comprometimento de profissionais que já pensavam apenas em descansar

Aposentado desde 2003 e se dedicando aos estudos, Brentano é o perfil que os recrutadores buscam para retornar ao mercado (Foto: Arquivo pessoal)
Aposentado desde 2003 e se dedicando aos estudos, Brentano é o perfil que os recrutadores buscam para retornar ao mercado (Foto: Arquivo pessoal)

Numa época em que o mais provável seria curtir dias longos e calmos, eles recebem propostas para voltar ao batente. Os aposentados brasileiros estão na mira do mercado. O motivo é o apagão de talentos em diversos setores. Com dificuldade de encontrar mão de obra qualificada, as empresas apostam no conhecimento adquirido por profissionais durante décadas. 
Uma pesquisa da empresa Vagas Tecnologia (do site de recrutamento Vagas.com.br), com 476 entrevistados e média de idade de 68 anos, indica a tendência. Entre os 53% que se declararam inativos, 36% receberam pelo menos uma oferta para retornar ao trabalho nos últimos três meses. Dos 47% que continuam empregados após se aposentarem, 80% pretendem trocar de empresa e 36% desejam o dobro do salário atual.
Senso de colaboração e a ideia de crescer junto com a companhia tornam os aposentados atraentes. “Eles têm experiência e comprometimento, diferente da atual geração, que é imediatista”, diz Fernanda Diez, gerente de relacionamento do Vagas Tecnologia. “Vão vestir a camisa de quem os contratar.” As áreas de atuação mais desejadas, segundo o levantamento, são engenharias civil, mecânica e eletrotécnica; administração de empresas e vendas.
Contratar aposentados também é econômico. “São profissionais que já sabem o que fazer. O gasto da corporação com treinamento é menor”, diz a psicóloga Adriana Gomes, diretora do site Vida e Carreira, especializado em orientação profissional. Ela divide os aposentados que voltam ao trabalho em dois grupos: os que realmente precisam de um complemento de renda e os que ainda desejam contribuir com a sociedade.
Flavio Brentano, de 66 anos, de São Paulo, está no segundo time. “Quero desafios e aprendizado”, diz. Experiente em cargos de gerência de diversas áreas, ele se aposentou em 2003 e atuou como consultor eventualmente. Mas há nove meses é alvo do assédio de recrutadores. “Semana passada recebi proposta para um cargo de gestão na área editorial. Recentemente, participei da seleção de uma ONG.”
A busca pelos que estavam fora do mercado é consequência direta das transformações contemporâneas. “Vivemos mais e melhor. A longevidade modificou comportamentos, inclusive os do mundo corporativo”, diz Adriana. A psicóloga afirma que um dos resultados do novo cenário será o surgimento de coach e cursos de orientação especialmente para a reinserção da terceira idade no cenário empresarial.
Enquanto isso, atualização é fundamental. Em 2011, Brentano comemorou a graduação em administração. Agora, finaliza a monografia da pós-graduação, a ser defendida em outubro. Casado e pai de três filhos, a família apoiou tanto a decisão de voltar aos estudos quanto a de encarar o escritório novamente. “Até analisei inscrições de processos seletivos para trainee e não descarto a possibilidade de participar. Afinal, sou recém-formado!”
E qual seria a vantagem de alguém experiente numa disputa com um pessoal 40 anos mais jovem? “Investir nas relações olho no olho, que pedem boa comunicação e capacidade de equilibrar pontos de vista”, diz Fernanda, do Vagas Tecnologia. Para Brentano, a disputa com quem chega ao mercado é bobagem. “Podemos aprender juntos. Não sou dono da verdade e o que importa é o trabalho em equipe harmonioso.” Sabedoria adquirida com a maturidade.


aposentados (Foto: Natália Durães/Época)

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