terça-feira, maio 27

Empresários e pesquisadores apontam desafios para a inovação

Debate ocorreu durante reunião magna da Academia Brasileira de Ciências (ABC)


A ideia de que a inovação é um fenômeno econômico fundamental para o desenvolvimento parece ser consenso entre os empresários brasileiros. Mas como criar no Brasil um ambiente favorável para isso?
A questão foi discutida na reunião magna 2014 da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Rio de Janeiro, em uma mesa que reuniu o industrial Horácio Lafer Piva (membro do Conselho de Administração das Indústrias Klabin e membro do Conselho Superior da FAPESP), o biólogo Fernando Reinach (administrador do Fundo Pitanga), o químico Gerson Valença Pinto (vice-presidente de Inovação da Natura) e o empresário Ricardo Felizzola (presidente do Conselho Administrativo da empresa Altus Sistemas de Automação, com sede no Rio Grande do Sul).
“A inovação não é um objetivo por si só. O objetivo é a prosperidade e fazer com que o lócus empresarial seja mais competitivo”, afirmou Felizzola, que também é presidente da HT Micron e coordenador do Conselho de Inovação e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs).
Segundo os empresários ali reunidos, diversos obstáculos impedem que esse objetivo seja alcançado no Brasil. “Em um ambiente inovador tem de haver financiamento”, disse Felizzola que ainda listou como entraves a elevada carga tributária – principalmente no investimento em P&D –, a burocracia (nos registros de empresas e nas agências que as regulam) e a própria legislação brasileira, referindo-se a leis e decretos que regulamentam registros e o tratamento tributário dos incentivos fiscais para estímulo a P&D de empresas.
Para Lafer Piva, da Klabin, líder no setor de celulose e papel no país, outro problema é o componente educacional, que prejudica especialmente a inovação na indústria na área de Engenharia.
“Precisamos melhorar o currículo dos cursos de Engenharia, inserir conhecimentos mais técnicos e problemas mais complexos. Estamos colocando na escola menos gente do que a demanda do mercado. E faltam atributos específicos a muitos que concluem o curso”, disse.
“Temos que melhorar esse profissional e enfrentar essa carência qualitativa e quantitativa, estimulando o estudo da Engenharia e a relação universidade-empresa. As empresas precisam cada vez mais de inovação e pesquisa. Ou a pesquisa é incorporada, ou não vamos chegar a lugar algum”, afirmou Lafer Piva.
Para Felizzola, embora o déficit na educação e a dificuldade na interface universidade-empresa sejam aspectos importantes a serem levados em conta, não são preponderantes.
“A inovação não está na empresa nem na universidade, mas sim no mercado. Ela é um elemento econômico absolutamente ligado ao capitalismo. Para ela existir, tem que haver mercado. No Brasil se produz muito conhecimento, mas esse conhecimento é competitivo? Ele se transforma em PIB?”, indagou.
De acordo com Felizzola, o país precisa desenvolver uma cultura empreendedora, a exemplo dasstartups, termo que designa empresas recém-criadas e inovadoras, popularizadas a partir dos anos de 1990 com a explosão de empresas associadas à tecnologia no Vale do Silício (Califórnia), como Google, Apple, Microsoft, Yahoo e Facebook, entre outras.
“Quanto mais inovadora uma empresa, maior será a possibilidade econômica de ela virar sucesso e gerar produtividade e riqueza”, destacou, citando o WhatsApp, o Twitter e o Instagram, nos Estados Unidos, a sueca Skype e as brasileiras Buscapé e Bematech.
“Precisamos lapidar o conhecimento em torno da inovação”, disse ele, lembrando que Israel, país com 7,9 milhões de habitantes, tem hoje 4.800 startups, enquanto o Brasil, com uma população de 203 milhões, tem apenas 2.580.
Para Reinach, do Fundo Pitanga, além de uma cultura empreendedora, falta no país a cultura do risco.
“Em um projeto bom, a maior preocupação deve ser se a probabilidade de sucesso (sua utilidade pública) será menor que o esperado e não se o retorno financeiro da nova ideia será menor ou se o projeto levará mais tempo ou custará mais que o esperado. Na época dos descobrimentos, D. Manuel, rei de Portugal, investia em dezenas de caravelas, mas sabia o risco que corria e que a grande minoria delas poderia retornar com lucros. Para o fundo de capital de risco, cada empresa é uma caravela”, comparou.
Valença Pinto, da Natura, lembrou que, quando a empresa começou suas atividades em 1969, enfrentou um mercado competitivo com outras empresas do ramo, como a tradicional norte-americana Avon. Hoje, a empresa brasileira tem uma receita líquida de R$ 7,01 bilhões, chega a quase 60% dos lares brasileiros, tornou-se uma multinacional e é a empresa líder do setor de cosméticos e higiene no Brasil.
No encontro, foram lembrados como exemplos de investimento iniciativas como o Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), criado em 1997 para apoiar a execução de pesquisa científica e tecnológica em pequenas empresas do Estado de São Paulo. 



FONTE: FAPESP
 

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