"Na Sony, supomos que todos os produtos de nossos concorrentes terão basicamente a mesma tecnologia, o mesmo preço, o mesmo desempenho e as mesmas características. O design é a única coisa que diferencia um produto do outro no mercado."
Norio Ohga, ex-presidente e CEO, Sony
Beleza ou praticidade? Estilo ou usabilidade? Afinal qual o papel efetivo do design na elaboração de um produto? Para alguns, práticos e objetivos, trata-se apenas de um adendo, um ‘penduricalho’ caro e muitas vezes supérfluo que eleva o custo e agrega pouco valor efetivo. O importante é que o objeto, máquina ou aparelho funcione, cumpre sua função, tenha durabilidade etc. Neste caso, com o perdão do poeta, beleza não seria fundamental.
Mas, será que é isso mesmo? No período entre o Homem das Cavernas e o Feudalismo, passando pelo desenvolvimento da agricultura, do comércio e à era das navegações, cada peça era única, feita artesanalmente ou em pequenas manufaturas. Aqui, o desenho já estava presente, não apenas na busca da forma mais adequada para a função desejada – seja um barco ou um copo – mas também para torna-los mais bonitos e/ou se comunicar com deuses ou outros homens.
Foi na Revolução Industrial que se criou a ideia de padronização, com milhares de itens idênticos produzidos em massa. Naqueles tempos – fim do século XVIII, início do XIX – a variedade era pouca e havia praticamente um fabricante de cada tipo de item. Logo, a competição era mínima e as formas similares.
Nos séculos XIX e XX, com a evolução do comércio e das ciências, inovar era sinônimo de inventar. Conhecimento era poder e cada novidade demandava estudo, esforço e muito tempo para ser copiada – o que dava ao inventor uma vantagem competitiva nada desprezível.
Não sem ironia, foi exatamente a evolução na quantidade e velocidade das inovações que implodiu o modelo. No século XXI, vivemos num mundo sem fronteiras, marcado pela comoditização e produção em massa. Não há mais segredo e tudo pode ser copiado num piscar de olhos. Os produtos, em sua maioria, são iguais na forma, entrega e qualidade. Quando muito, se diferenciam pela marca e design. Mas, se marca e design não passam de uma bela embalagem, como se distinguir?
É neste ponto que precisamos nos aprofundar. Afinal, design é muito mais que a roupagem externa. É o desenho da solução, do processo, da ergonomia. O desafio do designer é criar uma forma de fazer, de usar, de explorar cada objeto pelo usuário, estabelecendo uma plataforma de interação intuitiva e sedutora, que traga benefício real por meio de uma experiência gratificante. E que faça diferença no seu negócio. Estudos realizados pela CNI – Confederação Nacional das Indústrias indicam que 75% das empresas que investiram recentemente em design registraram aumentos em suas vendas. E não só isto. Cerca de 41% destas mesmas empresas também conseguiram reduzir os seus custos.
A Apple é considerada por muitos a mais inovadora organização deste começo de século. É interessante notar que, nela, o design não é apenas o nome do departamento que desenha computadores, tablets e celulares. A disciplina transpassa todos os setores da companhia, da engenharia à logística. E a empresa criada por Steve Jobs não está mais sozinha. Da Nike a Pepsico, da Samsung a Prefeitura de Nova York, dezenas de entidades estão colocando seus chefes de design no board, de onde lideram as decisões estratégicas. Prova de que a importância e os resultados positivos do design thinking vão muito além de produto e embalagens atraentes.
E isto acontece por que o design cria toda a experiência em torno de um produto ou serviço, podendo construir ou destruir a narrativa e a entrega de uma marca. O design contemporâneo busca dar forma a uma ideia, concretiza-la, e fazer com que tenha o poder de engajar o público. Mais do que expressar, ele cria inovação. É a inovação. A beleza, fundamental, é mais consequência do que causa – nasce da fluidez e elegância. Enfim, design verdadeiro é o próprio produto e, sua criação, uma das últimas fronteiras da diferenciação num mercado saturado pela cópia.
FONTE: Adnews
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