terça-feira, novembro 25

Não julgue a economia pelo número de startups

Não julgue a economia pelo número de startups



Mais novos negócios são bons para a sociedade, certo?
Essa é uma suposição comum. Por exemplo, pegue a recente manchete feita pelo Washington Post “Mais negócios estão fechando do que abrindo. O Congresso pode ajudar a reverter isto?”. Soa ameaçador em um primeiro momento, mas espere um pouco, começar novos negócios é mesmo sempre uma boa coisa? Não é um princípio econômico básico que em um mercado bem ajustado ocorrerão diversas entradas e saídas, em que negócios fracos (incluindo milhares de empresas de uma só pessoa) serão “reciclados” rapidamente (faliram rápido) e que, ao longo do tempo, mercados bem ajustados e vigorosos suportarão companhias fortes e crescentes que, por sua vez, fornecerão empregos dignos e prósperos?
Essa fusão de startups com o empreendedorismo, e mais amplamente com o “dinamismo empreendedor”, tornou-se tão difundida que pode atrapalhar até mesmo as mais sérias pesquisas. Por exemplo, o admirado Instituto Brookings tentou explicar um aparente declínio no empreendedorismo norte-americano nas últimas décadas. A evidência? Mais e mais empresas estão sobrevivendo e crescendo nos 16 anos. O axioma implícito aqui é que companhias robustas que sustentaram um crescimento por um longo período são, de algum modo, menos inovadoras. Os autores deste estudo, assim como outros comentaristas, proclamam explicitamente que estes dinossauros são pesos mortos e estão diminuindo o espírito empreendedor da sociedade norte-americana. (É preciso notar que dentro deste grupo de “esterilidade inovadora dos 16 e poucos anos” estão eBay [19 anos], Google [16], Starbucks [43], Netflix [17], Apple [28], Cisco [30], Boston Scientific [35] e Dell [30]). Na tentativa de explicar as raízes deste declínio, o relatório do Instituto Brookings também aponta paralelamente uma queda no número de novas companhias registradas no mesmo período. A solução para eles: “A América precisa de mais startups”.
O perigo aqui mora na nossa inquestionável aceitação aos pressupostos embutidos nesses relatórios. Ou seja, que havendo mais empresas que crescem, de algum modo, isso se torna destrutivo ao empreendedorismo dentro da economia, e que o declínio de empresas recém-registradas por si só é uma coisa ruim. (Note que a Alemanha tem testemunhado um “declínio” quase idêntico em dinamismo nos últimos trinta anos, e a maioria dos especialistas concorda que a economia deles segue bastante forte. Com 16 anos de idade, ninguém diz que a Alibaba é morosa ou pouco inovadora). Na verdade, a evidência empírica mostra que o declínio na criação de novas empresas está associado ao aumento da renda per capita, e quanto mais novos negócios um país tem, menor é o seu PIB.
A maioria de nós que construiu e investiu em negócios sustentáveis de risco (como fizemos) ficaria empolgada com suas sobrevivências e crescimentos. Qualquer um que construiu uma empresa bem-sucedida sabe que, normalmente, leva-se 15-20 anos ou mais para que uma raíz seja fixada. Casos como o do WhatsApp são exceções.
Essas companhias em crescimento, que nós chamamos de “scale-ups” para diferenciá-las das startups, representam exatamente o tipo de empreendedorismo a longo prazo que aprimora sociedades, empregos, qualidade de vida e inovações. Companhias “scale-ups”, sejam elas antigas ou novas, que são conduzidas por líderes direcionados ao crescimento, podem conseguir uma nova trajetória de crescimento em qualquer momento de suas vidas. Estudos e mais estudos apontam o seguinte: relativamente, empresas de alto-crescimento muitas vezes têm pelo menos 16 anos de idade e são desproporcionalmente fortes condutoras de empregos, crescimento, valor e sustentabilidade. Novas empresas são mais fáceis de contabilizar, mas sozinhas não possuem o impacto positivo em economias como o que empresas em crescimento possuem.
QUALQUER UM QUE CONSTRUIU UMA EMPRESA BEM-SUCEDIDA SABE QUE, NORMALMENTE, LEVA-SE 15-20 ANOS OU MAIS PARA QUE UMA RAÍZ SEJA FIXADA. CASOS COMO O DO WHATSAPP SÃO EXCEÇÕES.
Nas próximas oito semanas, nós estamos lançando um esforço global** focado em um maior diálogo empreendedor relacionado às “scale-ups” e seus impactos positivos nas sociedades e economias. Esse esforço é, principalmente, direcionado através da Semana Global do Empreendedorismoque acontece neste mês de novembro, quando milhões de pessoas em 140 países participarão de mais de dez mil eventos para celebrar startupsempreendedoras. Embora economias saudáveis incluam números adequados de startups (assim como grandes companhias, negócios de família e microempresas), nós acreditamos que empreendimentos “scale-ups” merecem mais atenção do que recebem atualmente.
Tendo em vista ampliar essa conversa, nós desenvolvemos a Declaração “Scale-Up” (Scale Up Declaration, em inglês), que oferecemos como um ponto de reunião em que a discussão empreendedora deveria se focar e onde deveria mirar para chegar às suas realizações.
Portanto, declaramos que:

• Desde os primórdios da sociedade humana, o empreendedorismo – a criação de valor pelo crescimento de uma empresa – tem sempre um impacto positivo único tanto social como economicamente dentro de uma sociedade;
• Grandes e bem-sucedidos empreendedores sempre foram, são e sempre serão parte essencial de grandes sociedades como criadores de empregos, riquezas, inovações e, muitas vezes, filantropias;
• Grandes empreendedores beneficiam sociedades primeiro por subir degraus com suas empresas o mais rápido e alto possível, e depois por reinvestir sua estatura bem-sucedida, tornando-se modelos inspiradores, reinvestindo o conhecimento e tornando-se mentores ou professores, e reinvestindo seus ganhos financeiros nas próximas gerações de empreendedores;
• Uma mentalidade “scale-up” – a poderosa ambição de crescimento contínuo da empresa para impactar o mercado – é a atitude mais importante para empreendedores bem-sucedidos;
• Habilidades “scale-up” – liderança para trazer produtos e serviços para novos ou mercados já existentes, atraindo e desenvolvendo capital humano, financeiro e consumidor, aprendendo rapidamente com os erros – são as mais importantes habilidades que um empreendedor pode aprender;
• A quantidade e o sucesso de empreendedores locais de “scale-up” aumenta a quantidade e o sucesso de outras manifestações de empreendedorismo, incluindo startups, pequenos negócios e negócios de família;
• O empreendedorismo “scale-up” aplica-se a todos os setores, como os de serviços, manufatura, mídia, saúde, imóveis ou biotecnologia;
• Nós todos – empreendedores, executivos, educadores, fundações, governos, investidores, banqueiros e todos líderes da sociedade civil – podemos e devemos fazer mais para encorajar o empreendedorismo “scale-up” nas nossas regiões e ao redor do planeta;
• Nós iremos comunicar os conceitos e princípios desta Declaração “Scale-Up” global através de cada canal disponível, sendo pela palavra, telefone, impressão, e-mail ou mídias sociais.

Nós esperamos que esta Declaração “Scale-Up” seja impulsionada a se tornar um importante fator na criação de uma visão alinhada, precisa e abrangente em relação ao empreendedorismo em todo o mundo.


FONTE: Endeavor

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