quinta-feira, novembro 27

Como ter largado meu emprego para abrir minha tão sonhada startup ferrou com a minha vida

Finalmente, o SMS havia chegado:
“Amanhã de manhã, às 5h, voo número AZ610 de Roma para Nova York.”
Um SMS tocando no meu BlackBerry nas noites de domingo costumava decidir qual seria meu destino e cliente para a próxima semana.
Eu trabalhava para uma das três principais empresas de consultoria estratégica do mundo.
Uma vida toda dentro de uma mala. Uma vida de consultor, onde se deixa escapar tudo e todos na vida, menos planilhas de Excel. Uma luxuosa vida de negócios que somos ensinados a desempenhar como escravos ideais, em escolas de administração do mais alto nível, cujos diplomas exibimos com orgulho.
Depois de algumas horas de sono, o motorista particular me levou ao Aeroporto Fiumicino em Roma para que eu pudesse pegar meu luxuoso voo em Classe Executiva para Nova York. Ao chegar, fiz check-in em um luxuoso hotel cinco-estrelas e, mais tarde, fui ao escritório do meu cliente.
O salário? Também era luxuoso. A empresa se orgulhava de estar entre os principais players do mercado.
Os pais
No entanto, havia algo errado na vida de consultor. Não aguentava mais essa porcaria, e um dia liguei para meus pais:
“Pai, mãe, acabei de pedir demissão. Quero abrir a minha startup.”
Minha mãe quase infartou. Não era a primeira coisa que uma mãe perfeccionista queria ouvir, depois de ter me incentivado a me formar em uma das principais escolas de administração do mundo, com notas altas.
Tentei aliviar o desespero dela. Não teve jeito.
“Mãe, eu odeio aquilo lá. Todos aqueles consultores fingem que são felizes e tomam remédios pra ficarem felizes. Eu durmo só 3 ou 4 horas por dia. Todos aqueles benefícios que a empresa prometeu não existem. Lembra do hotel cinco-estrelas, de luxo? Estou trabalhando quase 20 horas por dia e nem posso aproveitar. Café da manhã de luxo? Nunca temos tempo pra isso. Almoço, jantar de luxo? É só um sanduíche na frente das planilhas de Excel.
  
Ah, e a propósito, em vez de curtir um champagne, eu fico olhando para umas planilhas durante todo o meu voo na classe executiva, também. O salário de luxo? Nunca tive tempo pra gastar um centavo dele.
Odeio a minha vida, mãe. É uma vida de fracassado. Não consigo nem ver a minha namorada. Não consigo mais fingir. Quero abrir meu próprio negócio.”
Meus pais haviam se aposentado depois de anos trabalhando das 9h às 17h em seus empregos públicos estáveis e monótonos.
Eu sabia que seria díficil explicar minha situação a eles, vindo de uma família sem um histórico de empreendedorismo, mas não esperava que ligassem já na manhã seguinte.
Era minha mãe no telefone:
“E entããão, como está indo o seu negócio?! Está crescendo?!”
Não importa o que eu dissesse, não conseguia explicá-la que leva mais do que um dia para um novo negócio crescer.
Namorada, Amigos & Círculo Social
Como eu tinha a namorada mais compreensiva do mundo, era chegada a hora de contar as novidades para meus amigos, que estavam ocupados em subir os degraus do glamouroso mundo corporativo.
Falei a todos que havia acabado de sair do meu emprego para ir atrás do meu sonho de abrir uma startup. Alguns dos meus amigos pararam gradualmente de se encontrar comigo, provavelmente porque acharam que havia algo errado em mim, já que era o segundo emprego “ideal” que eu largava em um curto espaço de tempo.
Embora o resto dos meus amigos tivesse me apoiado, ainda havia, no entanto, algo errado no meu relacionamento com eles.
Logo me dei conta de que eu havia começado a me afastar de encontros sociais.

Sempre que me encontrava com esses amigos, não tinha muitas novidades quando era interpelado com suas frequentes perguntas, tais como, “E então, como está sua startup?” Você vai ser o próximo Zuckerberg, não é?” “Cara, a gente está muito orgulhoso de você. Com certeza você vai ganhar uma grande rodada de investimentos em breve.”
Começar uma startup era um longo caminho, e eu estava me colocando sob muita pressão ao dar uma p*ta importância para o que as outras pessoas pensavam.
Fui ficando mais solitário e mais depressivo dia após dia, quanto mais ocasiões sociais evitava. O progresso da minha startup não era tão rápido quanto o meu círculo social imaginava e eu já estava cansado de dizer aos outros que levou anos para que startups como Facebook e Twitter chegassem onde estão agora.
Eu só me sentia confortável perto dos meus poucos amigos empreendedores. Era verdade. Somente um empreendedor entende outro empreendedor.

Dinheiro, dinheiro, dinheiro.
Como se não bastasse a pressão social e a solidão, estava me encontrando com a mãe de todas as preocupações: ficar sem dinheiro bem antes do que havia imaginado.
Isso estava acabando com minha produtividade e minha capacidade de tomar decisões adequadas. Eu estava em pânico, me precipitando para atingir o sucesso e ganhar dinheiro.
Um dia, cheguei a ter que pedir trocados para minha namorada, porque não tinha dinheiro para comprar uma garrafa de água mineral. Eu não sabia que aquele era apenas o começo de uma difícil vida de altos e baixos…
Hoje em dia.
Chega de drama: mais de dois anos se passaram desde aqueles dias. Agora, estou escrevendo este post de um lindo resort em Phuket, na Tailândia, enquanto aproveito um mojito.
Mas esperem, não estou vendendo um sonho. Não me tornei um milionário fundador de uma startup.
No entanto, meu negócio tem um fluxo constante de capital que me permite viajar ao mundo e trabalhar em qualquer lugar com WiFi.
Ainda há, contudo, cinco coisas que gostaria de ter me perguntado antes de começar essa árdua jornada. Cinco questões que todo futuro empreendedor deveria se perguntar antes de dar o primeiro passo no empreendedorismo:
1. Você está pronto para encarar a pressão social?

Se você tem amigos e familiares que não são empreendedores, eles não entenderão o que você está tentando conquistar, e a pressão do público será ainda maior.
Dei tanta importância para o que os outros achavam de mim, ao ponto de isso arruinar minha vida.
Eu me cobrava em excesso e me castigava com uma carga ainda maior de trabalho para que pudesse anunciar o meu sucesso o mais rápido possível. Ou melhor, isso até o dia em que percebi que estavam todos c*gando para mim. Por que, então, eu deveria agir diferente?
Você não vale mais do que dois segundos de atenção que as outras pessoas dão a um status de Facebook. Em 2014, ninguém mais tem tempo para se preocupar com os outros, em um mundo com tanta gente e ruído.
Se você se incomoda tanto assim com o que os outros pensam, vai desperdiçar tempo tentando provar que é bem-sucedido, em vez de se concentrar na sua startup.
Vá viver a vida. Comecei a fazer isso muito tarde.
2.Você é solteiro(a) ou está em um relacionamento com uma pessoa extremamente compreensiva?

Conforme ficamos mais velhos, compartilhamos mais das nossas vidas com quem dividimos um relacionamento, e menos com amigos e família. Embora eu tenha tido sorte ao encontrar uma garota incrível, foi muito triste ver vários dos meus amigos empreendedores terminarem com suas namoradas ao longo do caminho.
Ter um próprio negócio é difícil — bem mais difícil do que eu podia imaginar. A sua mente está constantemente ocupada com milhões de coisas e nenhuma pessoa, nem mesmo sua namorada, faz a menor ideia do que se passa na sua cabeça.
Se você não é solteiro(a), certifique-se de que a pessoa que está com você saberá que às vezes é normal não esperar nem mesmo um simples beijo.
Sim, um simples beijo na boca.
3. Você tem dinheiro suficiente para aguentar pelo menos um ano?

Ótimo, então agora multiplique essa quantia por pelo menos três, porque você esgotará suas economias bem mais rápido do que imagina. Haverá uma série de gastos adicionais ao longo do caminho, tais como honorários contábeis, custos com advogados, computadores e iPhones pifados, etc.
Prepare-se para morar em um apartamento menor, comer porções menores de comida e até contar os centavos, coisas com as quais você nunca se preocupou antes na sua vida.
Os últimos meses antes do dinheiro acabar por completo serão excepcionalmente difíceis, e a pressão irá crescer de uma forma tão exponencial que você nem conseguirá dormir direito.
O sucesso virá lentamente, enquanto o dinheiro irá rapidamente. Seja esperto — comece a planejar já no primeiro dia.
4. Você está pronto para dormir poucas horas por dia?

Ao fugir da vida de consultor no mundo corporativo, pensei que eu finalmente iria viver o sonho de trabalhar quando quisesse, até que li a seguinte frase de Lori Greiner:
“Empreendedores estão dispostos a trabalhar 80 horas semanais para não terem que trabalhar 40 horas semanais.”

Obrigado a Ian, um grande fotógrafo, pela foto.http://ianmurchison.com
Tudo começou com pequenos momentos de despertar no meio da noite. No início, aconteciam porque eu estava bastante animado com minhas ideias, que eram muitas. Eu simplesmente não via a hora da manhã chegar para voltar a trabalhar.
Então, houve a fase do exagero. Eu trabalhava demais, porque nunca me dava por satisfeito ao trabalhar pela minha ideia, e queria sempre fazer mais. No entanto, quanto mais eu trabalhava e mais tarde eu ia para a cama, mais difícil era conseguir dormir, e a qualidade do meu sono era cada vez pior.
Consequentemente, havia dois ou três dias por semana nos quais a minha produtividade era quase nula.
Não se deixe enganar pela foto bacana do meu Instagram aí em cima. E não se deixe enganar pelas notícias exageradas sobre fundadores de startups que viraram milionários.
As histórias dos bastidores trazem muitos dias de sofrimento, noites em claro, rejeições e fracassos constantes
A jornada para o sucesso é longa. Muito longa. E, na maioria das vezes, longa demais.
5. Como você define sucesso?

Cada um de nós tem uma lista de prioridades diferente na vida. Para a maioria, o dinheiro é prioridade número um da lista, enquanto para outros, o equilíbrio entre a vida e trabalho ocupa uma posição mais alta. Consequentemente, as pessoas definem o sucesso de forma diferente.
Dependendo da sua definição, a dificuldade da sua jornada empreendedora também será diferente. Se dinheiro e sucesso frente ao público é o que mais importa para você, sua jornada será bastante difícil.
Lembre-se das sábias palavras de Hemingway:
“É bom ter um fim para a jornada, mas é a jornada que importa, no fim.”
Os empreendedores de sucesso não são necessariamente aqueles que arrecadam milhões em rodadas de investimentos. Não se esqueça: eles são um em um milhão.
No entanto, há milhares de sonhadores que conseguem financiar suas startups com um mínimo de recursos, ou que vivem muito bem às suas próprias custas, embora não estejam nas manchetes.
Não importa o quanto a sua jornada irá ferrar com sua vida: aproveite a viagem e continue seguindo sua paixão. É como Tony Gaskin disse perfeitamente:
“ Se você não concretizar o seu sonho, uma pessoa irá contratá-lo para ajudar a concretizar o sonho dela”




FONTE: medium

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