terça-feira, abril 15

Nine-to-five pra quê?

“Tudo bem… desde que você cumpra suas 8 horas de trabalho”

Essa ainda é a mentalidade de uma enorme fatia dos empregadores brasileiros. Há uma grande dificuldade em mensurar o trabalho dos funcionários pelo impacto que geram, pelos resultados do seu esforço para atingir os objetivos individuais e coletivos da organização. Curioso que seguimos estas “40 horas de trabalho”, ou 8 horas diárias numa jornada de 5 dias, como uma espécie de mantra mas ninguém sabe ao certo se esta organização do trabalho realmente otimiza os resultados produtivos do trabalhador. Há quem ouse questionar este pilar quase imutável do trabalho moderno, mas certamente há vários gestores de olho, e pronto para jogar a primeira pedra quando modos de produção alternativos cometem algum deslize. É bem verdade que as 8 horas de trabalho são em si mesmas bastante flexíveis. Embora em um contexto industrial elas sejam seguidas mais ao pé da letra, pelo sistema de ponto e trocas de turno ininterruptas para que “as máquinas não parem”, em outro contextos 8 horas podem virar bem mais, ou bem menos. A figura do bancário ou operador do mercado financeiro trabalhando 10-12 horas por dia, às vezes inclusive durante o final de semana, contrasta com o estereótipo que temos do profissional de comunicação ou escritor tirando um tempo livre para ter inspiração. Mas claro que isso são somente estereótipos.

Mas você sabe de onde vem essa cultura ?

Embora tenha sido entusiasticamente adaptada por praticamente todo mundo, e pareça que ela “sempre existiu”, a cultura do “9to5″ (trabalho das 9 da manhã às 5 da tarde) como chamam os americanos foi criada por uma única mente. Que aliás, já é quase chover no molhado, porque em tempos de pós-modernismo este cara parece ter sido o criador do mal e o responsável direto pelas mazelas do mundo. Foi na era industrial que o inconfundível Henry Ford determinou que suas fábricas funcionariam em turnos de 8 horas, durante 5 dias da semana. É isso mesmo, veja novamente o seu contrato de trabalho, ele reflete os pensamentos do fordismo, e ninguém sabe exatamente por que, nem se esta é a melhor forma de trabalho. Exceto você, que já percebeu a tempos que é muito mais produtivo quando respeita seu próprio ciclo de energia ao longo do dia. Já sabemos que o ciclo do Ford, junto com diversas outras práticas da era industrial não são o melhor para você, já que elas foram criadas para atender aos interesses da indústria. E já se deu conta do quanto elas impactam a nossa vida? Desde os horários das aulas no maternal somos condicionados a estas “inquestionáveis” 8 horas… O pior de tudo, é que este ritmo de 8 horas/dia e 5 dias/semana serviu muito bem para evitar os excessos de trabalho, pois, se pudessem os empresários industriais obrigariam seus funcionários a trabalhar 24 h/dia e 7 dias/semana. Se você acha esta afirmação um exagero, lembre-se dos horrores cometidos durante a escravidão. Por isso, o ciclo de Ford pode ser imaginado como um dos primeiros direitos trabalhistas de que se tem notícias. E na cabeça dele, segundo o que consta, o objetivo era um só: gerar consumo. Afinal, realmente não faz sentido todo mundo trabalhar o tempo inteiro produzindo coisas, se não tem tempo para gastar o salário conquistado comprado coisas que outros produzem!
moderntimes

Um outro mundo é possível

Exemplos concretos da substituição de avaliação de desempenho por resultados vs horas trabalhadas já existem no nosso dia a dia. Os médicos cirurgiões são um exemplo concreto de uma profissão em que cobrar o profissional pelo resultado é nitidamente mais inteligente. Imagine a seguinte frase: “olha, a cirurgia deu errado, mas o importante é que eu cumpri minhas horas como combinado”. Que tal? Você gostaria de ter sua vida nas mãos desta pessoa? E pior que, dependendo do contrato, ele teria todo o direito de alegar uma barbaridade dessas. Na verdade, na verdade, todo mundo pode ser avaliado desta forma, o difícil é identificarmos quais os parâmetros certos que ajudam a identificar sua produtividade, e organizar seu cotidiano de modo a atingir estas metas. Abaixo vão algumas dicas de como fazer isso acontecer no seu dia a dia e trazer exemplos/argumentos de que um bom dia de trabalho não vale meras 8 horas. Essas dicas foram traduzidas e adaptadas do post http://thenextweb.com/entrepreneur/2013/12/16/surprising-reason-40-hour-work-week-rethink/#!qhHbe
1. Encontre o seu flow Essa eu uso toda vez que preciso escrever algo consistente e longo. Talvez seja muito parecido com o que escritores fazem quando se isolam do mundo para criar seus universos literários. O segredo é se desligar sumariamente dos estímulos externos de horário, como relógios, ou mesmo TV, e da conexão externa com outros. É entrar no seu próprio ritmo interno, respeitando os ciclos de sono, alerta, fome, etc, seguindo somente sua voz interna. Trabalhando assim, faço bursts intensos de 1-2h de trabalho, intercalado com sonecas quando dá vontade, ou relaxamentos, que podem envolver uma saída para caminhar, meditação ou dar um tempo e tomar uma long neck. Aliás, alterno o dia inteiro entre bebidinhas de leve e café ou qualquer outro energético, e como pouco enquanto estou neste processo. Por exemplo, o draft inicial da minha tese de doutorado foi escrita num flow contínuo de cerca de 10 dias.
2. Respeite o seu processo criativo Você já se perguntou o que aconteceu de diferente quando você gerou um trabalho excepcionalmente bom? Saberia emular este processo? Este é um exercício pessoal e subjetivo, você pode ter vários exemplos do processo criativo de outras pessoas e tentar imitá-los. Mas nada como tentar entender o seu próprio processo criativo espontâneo. Vou escrever sobre o meu em outro post, mas deixo como exemplo uma métrica de resultados: este ano conseguir produzir em 5 dias 400 e poucos slides para 16h de aula e em apenas um dia, acordando às 7 da manhã, consegui terminar até às 3 da tarde 115 slides que geraram 4 horas de aula. No kidding, cheguei no local às 16h do mesmo dia para começar a aula às 17h e foi aprovada com louvor. (esta última hora gastei com visualizações e concentração na experiência que queria gerar). Pode ter certeza que eu não chegaria no mesmo resultado trabalhando no escritório com um mês de antecedência para produzir as aulas.
3. Tenha metas diárias a serem alcançadas Essa é típica da gestão criativa de projetos. Quebre suas macro metas (do ano, do mês, da semana) em pequenas metas diárias, realísticas e alinhadas com o seu propósito profissional. Alcançar 3 ou 4 coisas relevantes em um dia já é o suficiente, não seja louco de fazer uma To-Do list enorme e com ítens para os quais você não dá a mínima importância. Comece pelo mais relevante, faça uma pausa para re-avaliar a lista após o almoço, e sempre termine o dia fazendo algo que dê prazer e que você consiga cumprir. Nada mais motivante do que chegar em casa com a sensação de dever cumprido após um longo dia de trabalho.
4. Tire um day out (sem culpa) quando precisar Todos precisamos de um day out de vez em quando, e muitas vezes, pasmem, esta necessidade não ocorre no sábado ou domingo. Tirar um dia livre no meio da semana pode fazer um bem danado para sua produtividade e felicidade. Este binômio deve estar sempre presente quando você planeja suas ações. Se você não tem autonomia suficiente para decidir trocar um dia do final de semana por uma quarta-feira, tente negociar um dia trabalhando em casa. Experimente, pode te fazer um bem danado, especialmente quando você precisa realizar algo especial.
5. Defina sua próprias métricas de produtividade O seu trabalho especial e as suas horas de dedicação a eles são as melhores do dia. Então não as desperdice, de manhã, num estado ainda relaxado e antes de abrir o email, reflita sobre o que você deseja alcançar no dia de hoje. Essas são suas verdadeiras métricas. Quando conseguir mensurar suas conquistas diárias desta maneira, e voltar pra casa satisfeito(a), você estará pronto para pensar me metas (e métricas) mensais e anuais, e discutí-las com as outras pessoas envolvidas/afetadas por seus projetos.
Estas dicas são úteis, mas não são únicas, gostaria muito de ouvir suas próprias ideias sobre o assunto. Estas eu organizei quando me inspirei lendo o post que mencionei acima, mas admito que também me vejo pensando em termos das 8h diárias de trabalho, principalmente nos dias que estou de saco cheio :-)


FONTE: transforme.is

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