Entre os motivos que mostram o despreparo do Brasil estão os sistemas ineficientes de transporte 

público nas metrópoles

  • O compartilhamento de automóveis em metrópoles é um serviço relativamente recente, mas que cresce em ritmo acelerado. Enquanto, a única empresa brasileira (ZazCar) possui cerca de 2,8 mil associados em São Paulo, a europeia car2go tem quase 300 mil em 20 cidades nos Estados Unidos e em países desenvolvidos da Europa – em 2011 o número era de apenas 60 mil. Integrante do grupo Daimler, o mesmo da Mercedes-Benz, a empresa avalia o mercado brasileiro, mas ainda vê o País distante da popularização do serviço de mobilidade urbana.
Entre os motivos que mostram o despreparo do Brasil estão sistemas ineficientes de transporte público nas metrópoles e a cultura ainda forte da propriedade de veículos, segundo apontou Andreas Leo, porta-voz da Daimler Mobility Services, a mais nova subsidiária do grupo, criada em janeiro deste ano. Além de um serviço, a mobilidade já se mostra um negócio lucrativo para a Daimler em pelo menos três cidades no final do ano passado.
Diferente do modelo disponível no Brasil, que tem diversos modelos e o carro deve ser devolvido no mesmo local em que foi retirado, a car2go oferece apenas modelos Smart em viagens de ida e volta, ou apenas de ida. O cliente pode, por exemplo, ir para o trabalho e deixar o carro em um ponto para outros usuários, sem custo de estacionamento. No final do expediente, ele pode pegar outro carro em qualquer ponto e voltar para casa.

A empresa do grupo Daimler perde em número de sócios apenas para a americana ZipCar, que contabiliza cerca de 700 mil. O plano da car2go é expandir o número de modelos Smart disponíveis para compartilhamento de 6,1 mil para 10 mil até o fim do ano e atingir 50 cidades até 2016. O número de usuários de carsharing na Europa tem potencial para crescer de 700 mil atualmente para 15 milhões em 2020, segundo a companhia. E quem sabe até lá o Brasil, não entra nos planos. Confira a entrevista completa:Em uma cidade como Amsterdã, na Holanda, o custo para utilizar a car2go é de 0,29 euros por minuto, ou 14,90 euros por hora, até um máximo de 59 euros por dia. Se quiser apenas parar o carro por um tempo antes de seguir viagem, a taxa cai para 0,19 euros por minuto enquanto estiver estacionado. Caso esteja com uma versão elétrica do Smart e precisa recarregar a bateria, o cliente ganha 20 minutos gratuitos para dirigir.

Existe algum estudo ou projeto para implantação do sistema car2go no Brasil? Quais países estão no plano de expansão?
A car2go está bem implementada na Europa e América do Norte – que são atualmente o nosso foco. Estamos prontos para expandir o serviço para outras cidades e países no futuro. É cedo ainda para afirmar quais serão as próximas cidades, mas novidades aparecerão nos próximos meses. Não sei dizer hoje se, ou quando, a car2go chegará ao Brasil. É claro que pode ser uma opção interessante e vamos analisar.

Atualmente o Brasil tem apenas uma empresa de carsharing  (ZazCar), no sistema round trip (retorno ao mesmo local), com cerca de 2.300 usuários cadastrados. Quanto tempo o Brasil deve levar para chegar ao nível de usuários da Europa e EUA?
Esta é difícil de responder e depende de muitos fatores de influência, como a situação sócio-econômica e o desenvolvimento. O compartilhamento de carros é bem sucedido em cidades com boa rede de transporte público e com pessoas que pensam em compartilhar bens em vez de serem proprietárias.

Recente estudo da KPMG mostra que 60% dos brasileiros acreditam que 6% a 15% dos moradores de áreas urbanas usarão carsharing em 2027. Isto seria um mercado potencial de 20 milhões de usuários. Qual a visão da car2go sobre o potencial do Brasil?
Estes números são bastante impressionantes. No entanto, a car2go é uma solução de mobilidade para grandes áreas metropolitanas e precisamos descobrir se, e quando, as cidades brasileiras se tornarão um mercado interessante para a car2go.

O mesmo estudo relata que a demanda no Brasil por carros grandes, como SUVs, é quase o dobro do que nos países desenvolvidos. Porque o brasileiro parece ainda resistente a carros compactos como o Smart?
Sabemos que o comportamento do consumidor é diferente em muitos países. Enquanto o compartilhamento de carros não se desenvolve no Brasil e as pessoas preferem ter (grandes) carros, isto pode indicar que o mercado brasileiro ainda não está pronto para um conceito como a car2go.

O sistema de carros compartilhados afeta de algum modo a venda de carros particulares?
Não. A car2go é um modelo de negócios adicional e não afeta o negócio principal da Daimler. Nos últimos anos, programas de mobilidade como compartilhamento de carros e bicicletas apresentaram taxas de crescimento notáveis em algumas cidades pelo mundo. O programa car2go da Daimler aperfeiçoa estes conceitos e faz a mobilidade individual mais fácil e flexível. Por ser único e oferecer grande valor ao consumidor, consideramos a car2go uma oportunidade de negócio importante para a Daimler. Ela alavanca perfeitamente a cadeia de valor da Daimler, desde a produção e o financimaneto automotivo até os serviços ao consumidor e pós-vendas. A car2go também permitirá que a Daimler alcance novos e interessantes públicos-alvos, como quem não quer ou não pode ter um carro. Por último, a car2go é uma oportunidade de mostrar a marca Smart a consumidores em potencial.

O carsharing é um sistema que acompanha a mudança de comportamento dos jovens com relação ao consumo? Qual o perfil do usuário?
Cerca de 60% dos nossos clientes são pessoas jovens, entre 18 e 35 anos.  Alguns de nossos usuários usam a car2go por causa de mudanças no comportamento em relação ao consumo, mas não são todos. Entre os nossos clientes temos diversos grupos e diversas razões para utilizar a car2go, por exemplo, para ir ao centro da cidade com um carro pequeno em vez do (ainda existente) carro próprio para reduzir o custo com estacionamento ou simplesmente por não poder comprar um carro próprio. Apenas para mostrar duas das diversas razões.

FONTE: Terra