quinta-feira, abril 24

Trabalho com data de validade

As carreiras de ciclos curtos, como as de esportistas e modelos, ajudam profissionais de outros mercados a entender como lidar com funções que se extinguem antes da hora programada

Bruno Souza, Agberto Guimarães, Guilherme Marques, Sebastian Cuattrin e Ricardo Prado
Ex-atletas brasileiros agora integram o corpo de funcionários do comitê organizador da Olimpíada 2016, no Rio de Janeiro

Os atletas da foto acima têm histórias de vida tão distintas quanto os esportes que praticavam. Mas um ponto de sua trajetória é convergente: o momento em que tiveram de abandonar o esporte e seguir outro rumo profissional. O corpo é cruel e a aposentadoria de quem depende exclusivamente do físico é precoce.
E, quando esse momento chega, vem o dilema: que caminho seguir? Os esportistas que levaram o nome do Brasil ao pódio em sua modalidade encontraram no comitê organizador da Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, uma forma de se manterem próximos ao esporte e ao mesmo tempo fazer uma transição para um trabalho distante das quadras e piscinas.
Quando o evento acabar, daqui a dois anos, esperam seguir um novo caminho. “Todos estão preparados para isso”, afirma Henrique Gonzalez, diretor de recursos humanos do comitê Rio 2016. Mas a transição deles só está sendo possível porque, paralelamente ao sucesso esportivo, se especializaram em áreas como engenharia, economia e fisioterapia para garantir a segurança da mudança de trajetória.
“A maioria dos atletas não está em condições de trocar de ocupação, o que inevitavelmente vai acontecer”, afirma Ricardo Prado, ex-nadador e presidente do conselho de esportes do Rio 2016.
Engana-se quem pensa que apenas atividades esportivas têm uma data de validade condicionada ao preparo físico. No mundo do trabalho há carreiras que exigem demais do corpo (e da saúde). Empregos muito estressantes, como corretor de bolsa de valores e produtor de eventos, costumam ser terríveis para o bem-estar.
A manipulação de substâncias tóxicas também pode ser o pivô de aposentadorias precoces — funcionários de empresas químicas, mineradoras e farmacêuticas sofrem com isso. A hipertensão arterial é um sinal de alerta para pilotos de avião. Há, enfim, situações de trabalho que abreviam profissões e que reforçam a tese de que todo mundo deve criar alternativas de carreira.
Uma transição mal planejada, indesejada ou inesperada pode gerar uma série de frustrações. “É natural não querer trocar de profissão quando se está feliz no trabalho”, afirma Gutemberg Macedo, fundador da Gutemberg Consultores, de São Paulo.
Planejamento precoce 
As carreiras de duração curta são úteis para ilustrar que ter um plano B é importante independentemente do ramo de atuação. Afinal, imprevistos existem e podem forçá-lo a mudar de rumo.
“É fundamental pensar em fontes alternativas de renda e desenvolver uma carreira em ciclos mais breves e com modelos mais flexíveis de trabalho”, diz Rafael Souto, CEO da Produtive, consultoria de reposicionamento de carreira, de São Paulo.
Ironicamente, profissionais que se destacam muito numa carreira investem menos em alternativas. “As pessoas bem-sucedidas costumam ter pouco tempo disponível e se empenham mais em imortalizar a primeira profissão do que em preparar a segunda”, diz Rafael.
Um dos motivos para adiar a busca por uma segunda ocupação é a dificuldade de identificar um trabalho adequado às habilidades técnicas e comportamentais que o profissional construiu. “As transições não devem ser bruscas e é preciso conhecer os próprios limites”, afirma Ília Lima, consultora de outplacement da De Bernt Entschev, de São Paulo.
Por isso é importante escolher atividades que deem o mesmo tipo de satisfação e que correspondam à sua personalidade. “Se você gosta de atividades mais dinâmicas, evite ocupações com funções rotineiras”, diz Ília. “E, se não gosta de assumir riscos, não empreenda.”
O momento ideal
A carreira curta também evidencia que profissionais podem ficar obsoletos. É preciso estar atento às demandas de mercado para saber se as competências ainda valem. Para quem for mudar, é preciso saber que a transição quase sempre exige sacrifícios. Dificilmente se começa uma nova carreira com o mesmo salário e prestígio da profissão anterior.
É provável que seja necessário voltar a estudar. Pode ser que os novos colegas (ou chefes) sejam mais jovens. Pode faltar uma rede de contatos estruturada. A parte boa é que, ao trocar de profissão, você pode enxergar oportunidades que antes eram invisíveis, e encontrar a satisfação em empregos diferentes dos que cogitava até então. E se perceber capaz de fazer uma série de coisas que nem imaginava.
Doutora Ana Claudia
Ana Claudia - Depois de 17 anos no mundo da moda,  a modelo Ana Claudia Michels, de 32 anos,  decidiu mudar de ares  e passou no vestibular  para o curso de medicina. Ana Claudia, que já  estrelou campanhas  de marcas como  Calvin Klein, Victoria’s Secret e Chanel, é agora  aluna do segundo  ano da Faculdade São  Camilo, em São Paulo.
VOCÊ S/A – Como você  se preparou para uma mudança de carreira?



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