Especialistas explicam conceito de modelo de gestão da produção nascido na Toyota e mostram como ele pode ser aplicado na construção civil.
O cenário atual da Lean Construction no País
Antonio Sergio Itri Conte, presidente do Lean Construction Institute do Brasil, abriu o evento explicando os principais erros das construtoras ao executar projetos que podem ocasionar perda de competitividade devido a atrasos e constantes estouros em custo. Entre as principais causas para falhas no processo de produção no canteiro de obras podemos mencionar a falta de materiais, mão de obra, projetos e frentes de serviço compatíveis com o ritmo de obra planejado para o empreendimento. Assim, “o foco das contratações feitas pelas construtoras deve sempre buscar garantir o cumprimento do ritmo planejado. Porém, a obra é quem precisa definir o ritmo, e não os departamentos internos da empresa. O ideal em uma obra Lean não é que a obra corra mais (pois essa estratégia geralmente traz consigo aumento de custos), mas que ela pare menos. Não adianta correr com uma etapa se a [etapa] seguinte não vai conseguir acompanhar o ritmo básico da produção adotado para o projeto. É aí que ocorrem as ociosidades e perdas de valores nos projetos”, explica o presidente.
Com a adoção do modelo, não é preciso se preocupar com o prazo em que o serviço vai acabar. As principais preocupações devem ser com o início das etapas na data prevista e um grande esforço em manter o ritmo dentro do ciclo definido. “Então, terminar no prazo será consequência. A minha preocupação deve ser com a estabilidade dos ciclos. Esse é o segredo”, assegura Conte. “Se eu quiser manter o ritmo, devo definir claramente qual é a sequência executiva necessária, quantas pessoas são demandadas para isso, quais são os critérios de terminalidade para determinado serviço e como deve ser trabalhada a logística interna e externa da obra”, explica.
Como nasceu o conceito
Jeffrey Liker contou como surgiu o Lean Manufacturing, originador da Lean Construction. Sakichi Toyoda, com a invenção de sua máquina de tear automática, foi quem influenciou seu filho, Kiichiro Toyoda, a adotar o conceito quando fundou a Toyota Motors Co, em 1937. Desde então, Kiichiro trabalhou para encontrar maneiras de inovar mesmo não tendo meios e escala para produzir como a Ford, que na época era referência mundial como produtora de automóveis. “Eles não tinham espaço e maquinário. Para se tornarem competitivos, pensaram em otimizar a produção com conceitos do Just In Time. Com a ajuda do engenheiro Taiichi Ohno, em três anos conseguiram se tornar nove vezes mais produtivos e se equiparar à Ford produzindo de acordo com a demanda que tinham”, conta Liker.
E foi com esse conceito que a Lean Construction foi criada. “Você identifica os problemas que tem e testa as soluções. Esse é o PDCA (Plan, Do, Check and Adjust) aplicado ao modelo proposto. O plano se baseia em identificar aonde você quer chegar e onde, de fato, está hoje. A partir daí, você planeja, age, observa e ajusta o que deve melhorar. É um ciclo que nunca deve terminar. Se você chegou onde queria, roda o PDCA novamente para melhorar”, aconselha o pesquisador.
Liker também explicou durante o evento a importância da liderança dentro do processo Lean. “Quando as coisas andam bem dentro da empresa, certamente há um bom líder por trás”. O especialista contou sobre a necessidade de haver um ambiente interno organizado, com um time treinado e comprometido com as metas.
Cases de sucesso
Além do Hotel Golden Flat, outros cases de sucesso foram apresentados no evento. Entre eles está o caso da Zipco, empresa especializada em montagem de coberturas metálicas leves para grandes áreas e exemplo de empresa da cadeia de fornecedores da construção civil que se adaptou ao modelo de gestão da produção em obras definido pela Lean Construction. Com um serviço conjunto entre seus engenheiros e projetistas, os galpões oferecidos pela empresa são projetados, armazenados e montados por eixo.
Com isso, a empresa conseguiu reduzir o Lead Time global do seu trabalho em 30%. “A Lean Construction foi importante no modelo de negócio que criamos e no produto que ofertamos ao mercado”, conta Luiz Priori, diretor de engenharia da empresa. Esse diferencial coloca a Zipco em um novo patamar de competitividade. Uma de suas obras, o Centro de Convenções do Ceará, ganhou um prêmio brasileiro de melhor obra em estrutura metálica no ano de 2012. Está concorrendo também a um prêmio em Liverpool, na Inglaterra, como a melhor obra em estrutura metálica no ano em nível mundial. O fato que levou ao reconhecimento do projeto foi a viabilização de uma obra de grande magnitude utilizando um produto 100% padronizado e com produção em série.
Atualmente, organizações como Odebrecht Realizações, Gafisa, Trisul, Tenda e Rodobens são exemplos que já colocaram em prática o modelo de gestão da produção e obtiveram, ao seu tempo, ganhos significativos de produtividade e desempenho em seus projetos.
FONTE: fgv
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