Escola Sesc de Ensino Médio, localizada no Rio de Janeiro, possui alunos de todos os estados brasileiros
“Costumo dizer que o Rio de Janeiro acolhe a escola do Brasil”, diz Ines Paz, gerente pedagógica da Escola Sesc de Ensino Médio, localizada na Barra da Tijuca, na zona oeste carioca. “Aqui podemos ver a cartografia da educação brasileira”, completa, ao se referir ao fato de a instituição atender alunos de todos os estados brasileiros.
A escola foi inaugurada em 2008, e desde então recebe a cada ano 165 novos estudantes que são escolhidos através de uma seleção nacional que envolve provas de português, matemática, conhecimentos gerais e dinâmica de grupo. Cada estado tem uma cota de participação, que depende da arrecadação regional para o Sesc. Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul são os que têm a maior cota, de dez vagas cada. Os outros estados contam ao menos com três vagas. Os estudantes só concorrem com os candidatos do próprio estado, o que garante a diversidade.
Paz explica que o processo seletivo é conduzido dessa maneira porque a pluralidade cultural é um pilar importante da instituição. “É um valor da escola trabalhar com a diversidade. É incrível ter, de fato, todas as unidades da federação representadas entre os alunos”.
Por isso, em cada quarto dos dormitórios estudantis do colégio sempre se encontrará alunos de estados diferentes morando juntos. Isso mesmo. Tanto alunos quanto professores e gestores moram na instituição, que segue o modelo de escola-residência, comum nos Estados Unidos. Cerca de 500 alunos e 70% dos professores residem no campus, que ocupa um terreno de mais de 130 mil metros quadrados.
Mas ao mesmo tempo que esse modelo de seleção garante que todos os estados sejam representados entre os alunos, a heterogeneidade traz um desafio em relação ao que foi aprendido durante o ensino fundamental e uma disparidade de níveis em relação aos conteúdos. “O desafio que enfrentamos com a heterogeneidade da nossa escola é um reflexo nítido das diferenças na educação brasileira”, analisa a gerente pedagógica. “É muito comum escolas falarem do nivelamento dos estudantes quando ingressam no ensino médio. Falar em nivelamento parece que é feito de cima para baixo. O que fazemos chamamos de alicerçamento, fazemos de baixo para cima”, conta Paz, que afirma que um dos principais objetivos do ensino médio é exatamente consolidar o ensino dos anos fundamentais.
“O desafio que enfrentamos com a heterogeneidade da nossa escola é um reflexo nítido das diferenças na educação brasileira”
Para realizar esse alicerçamento, a escola tem várias estratégias combinadas. Uma delas é aulas de reforço de matemática e português. Segundo Paz, as duas linguagens são fundamentais para todas as outras disciplinas. Primeiro é realizada uma avaliação diagnóstica e um mapeamento das necessidades de cada aluno em relação às disciplinas. Depois, grupos de estudo são montados considerando as competências que cada aluno precisa desenvolver.
Outra abordagem são os trabalhos de mentoria. Alunos do terceiro ano são incentivados a monitorar alunos dos anos anteriores. “É como uma experiência de trabalho, e é remunerado”, explica a gerente pedagógica que diz que o aprendizado entre pares é muito produtivo. Desse modo, a escola garante que as dificuldades sejam tratadas tanto de forma imediata e quanto ao longo do ano escolar.
Educador o tempo todo
Na escola-residência o trabalho do professor não acaba quando a aula termina. Na Escola Sesc não existe o conceito de contraturno ou extraclasse, todos os momentos do dia são voltados à formação dos estudantes. “Para ser professor aqui tem que ter uma perspectiva de educador. De educador o tempo todo. Nosso trabalho é fundamentando na ideia de uma educação permanente e integral do indivíduo”, explica Paz, que brinca que a sala de aula deles tem 130 mil metros quadrados.
Mesmo os professores que não moram no campus possuem jornada integral e Paz os define como “profissionais multifacetados” por terem que desempenhar diversos papéis além de lecionar. Eles também são tutores, também saem com os alunos, seja para o cinema, seja, em caso de uma emergência médica, para o hospital. E os gostos, habilidades e experiências dos professores também são levados em conta na hora de definir em quais atividades vão se envolver.
“Cada um tem algo a oferecer. Tem um professor que gosta de tocar violão e pode ensinar os alunos. Outro gosta de fotografia, outro adora praia. É um olhar educativo permanente”, diz Paz.
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