A Rodada de Educação Empreendedora 2014, que ocorreu em meados de outubro, apresentou melhores práticas sobre como fomentar o empreendedorismo em universidades
Entre os dias 13 e 15 de outubro, cerca de 250 educadores de mais de 120 universidades de todo o Brasil estiveram reunidos na 5ª edição da Rodada de Educação Empreendedora (REE), organizada pela Endeavor Brasil e SEBRAE, em Angra dos Reis. O evento, que tem como objetivo a troca de práticas de ensino de empreendedorismo, contou com convidados nacionais e internacionais em uma programação que discutiu desde políticas públicas até táticas de jogos para engajamento dos alunos.
Conheça os destaques da Rodada e os principais aprendizados:
“Eu queria mudar a lógica do empreendedorismo para o setor público” - Emanuel Fernandes, Deputado Federal e ex-prefeito de São José dos Campos
Em painel que discutiu as Políticas Públicas em prol da Educação Empreendedora, o Deputado Federal Emanuel Fernandes (PSDB-SP) contou dos esforços para levar empreendedorismo ao ensino básico durante seus dois mandatos como prefeito de São José dos Campos. Ele lembrou que havia recursos, mas havia também um preconceito contra o empreendedorismo. Por isso, apesar da resistência, defendeu a atitude empreendedora como uma necessidade. “Se eu pudesse escrever uma constituição hoje, ela teria dois capítulos. 1) Toda criança tem o direito de sonhar e nenhum adulto pode dar pitaco; 2) Se alguém não quiser crescer na vida, esse é problema dele. Se quiser crescer, é um problema nosso” - comentou, sobre a importância de criar estruturas propícias para motivar e alavancar ideias, e completou: “Me perguntaram quantos empregos eu gerei como prefeito. Se eu tivesse apenas gerado empregos, minha tese de empreendedorismo estaria furada. Eu precisava despertar nas pessoas a vontade de serem protagonistas”. Após o painel, professores presentes se reuniram de forma autônoma para compor uma carta propositiva pela inclusão da educação empreendedora na agenda estratégica de desenvolvimento econômico do país. Batizada de Carta de Angra dos Reis, ela já recolheu 150 assinaturas de acadêmicos e deve ser apresentada ao Governo em breve.
“Trate seu programa para um ecossistema empreendedor na universidade como você trataria a sua empresa” - Audrey Iffert, diretora de Empreendedorismo e Inovação da Arizona State University (ASU)
Para Audrey, o maior desafio de alguém que empreende – seja na universidade, seja fora – é fazer os outros enxergarem o que você vê. Seu trabalho na ASU consiste em fomentar o empreendedorismo entre alunos, professores e funcionários e, para isso, ela destaca duas regras básicas: 1) Ninguém é dono do empreendedorismo, ou seja, os programas criados devem ser oferecidos a todas as unidades e abranger a maior diversidade de perfis possível; 2) Não confie em liderança top-down para resolver todos os problemas: há uma facilidade em implementar iniciativas quando seu reitor ou coordenadores têm uma mentalidade progressista, mas isso não é o suficiente e há muitas formas de provocar mudanças.
Há 8 anos, quando Audrey iniciou seu trabalho na ASU, identificou na linguagem uma grande barreira para a aceitação do empreendedorismo na universidade. Percebeu que a palavra “entrepreneurship”(empreendedorismo, em inglês) é difícil de pronunciar e permite aos alunos diferentes definições. Entre elas, a de que empreendedores eram gananciosos e valorizavam apenas o capital. Audrey então criou um focus group para listar palavras em resposta a “o que empreendedores podem criar?” e percebeu que termos como “ONG” e “Negócio Social” tinham percepção mais positiva. Para gerar consciência sobre o tema dentro do campus, reuniu diversas ideias que poderiam tornar o mundo um lugar melhor e mostrou que o que nos ajudaria a realizá-las seria incorporar um modelo de receita, para que essas ideias se sustentem. Audrey foi bem sucedida em engajar alunos e professores, além de formar parcerias para que negócios fossem investidos e que uma comunidade empreendedora fosse criada dentro da universidade. Como um dos resultados, a Startup Village surgiu como uma ideia conquistada por alunos, e consiste em espaços residenciais e colaborativos para empreendedores, que também envolve treinamentos e mentorias com os residentes.
“Não é necessário ter experiência em prototipagem para tornar suas ideias realidade” - Audrey Iffert, diretora de Empreendedorismo e Inovação da Arizona State University (ASU)
Um makerspace é um espaço de convergência colaborativa entre pensadores, engenheiros e designers, pessoas abertas e inclusivas, que buscam oportunidades de botar a mão na massa. Audrey deu dicas de como criar makerspace em universidades, mesmo com poucos recursos. Definir um propósito e gerar um ambiente aberto à criatividade são os pontos principais. “Competências do século 21 e making caminham lado a lado: pensar fora da caixa, resolução de problemas, interdisciplinaridade, criar algo de valor - tudo isso é desenvolvido em um makerspaces. Até fazer crianças se empolgarem com gramática ou matemática é fácil se elas estão construindo coisas” - defendeu Audrey. Sobre prototipagem, Audrey aplicou uma dinâmica com os professores divididos em grupos de 7 pessoas. Com 20 fios de espaguete, um fio de barbante e uma tira de fita crepe, em 15 minutos eles precisavam equilibrar e sustentar um marshmallow o mais alto possível. Apenas 1/5 grupos foram bem sucedidos, o que serviu de lição que, para ter um resultado rápido, você deve testar um protótipo diversas vezes. Neste exercício, Audrey mostrou que, apenas perdendo para arquitetos e engenheiros, grupos de crianças são os mais bem sucedidos. Por quê? Elas não planejam muito e não têm medo de falhar rápido - quanto mais rápido você prototipa, mais cedo descobre o que funciona.
“Estamos condicionados a esperar o conhecimento do professor, precisamos fazer uma migração” - Luis Vabo Jr., professor da PUC-RJ e empreendedor da Sieve
As principais competências hoje necessárias para o empreendedor não são ensinadas em sala de aula. A taxa de retenção de conteúdo em aulas expositivas é de apenas 5%, contra 90% de retenção quando o aluno ensina esse conteúdo. Vabo acredita que, passando por métodos que permitam uma transição, paulatinamente, o conhecimento poderá ser construído de forma conjunta, onde a carga de responsabilidade dos alunos aumenta e o professor poderá atuar muito mais como um facilitador. Perguntado sobre quem seria o melhor ou mais adequado facilitador: alguém que nunca empreendeu ou empreendedor, Vabo respondeu: “Há assuntos em que meus alunos sabem mais do que eu. Fica mais rica minha experiência como professor a partir do momento que posso vivenciar dores de crescimento e conquistas na minha empresa que me ajudam a enriquecer o debate em sala de aula. Acho que deveríamos ter mais do modelo integrado de experiência pratica e teórica”.
FONTE: Endeavor
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