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domingo, setembro 22

Aluno precisa se sentir menos isolado e colaborar produzindo conteúdo

Professor Rob Kadel, da Pearson EUA, fala sobre mudanças da EAD e encoraja professores a explorar criativamente ferramentas que já existem


Enquanto muitas instituições ainda tentam assimilar a educação a distância, já se discute mudanças no modelo atual e formas de fazer com que os alunos se sintam menos isolados e sejam mais ativos nos cursos. 

Em uma entrevista exclusiva para o Guias, o cientista e filósofo Rob Kadel, que atua no Centro de Pesquisas de Aprendizagem Online e Rede de Inovação da Pearson EUA e é professor na Universidade de Colorado, fala sobre as transformações pelas quais a EAD está passando e como a forma de aprender deve mudar nos próximos anos. Segundo ele, novos cursos online têm proporcionado mais oportunidades para que o aluno possa interagir, produzir seu próprio conteúdo e colaborar com o curso, tornando seu aprendizado mais efetivo.  

Confira a seguir a primeira parte da entrevista. 

Educação a distância nunca foi tão popular quanto hoje, por causa dos MOOCs (Massive open Online Course, ou Curso Online Aberto e Massivo). Ao mesmo tempo, ainda estamos estudando como as pessoas aprendem online. Quais são as descobertas recentes em relação a isso? 

Mais recentemente temos entendido que aprender em grupo, no contexto social, é muito mais efetivo online. Em modelos antigos de aulas a distância, a comunicação é uma via de uma mão só: o professor posta a informação depois pede um trabalho ou algo do tipo. Às vezes até tem um fórum de discussão, mas sem grandes contribuições dos estudantes para o curso. Nós vimos essa tendência na educação de sala de aula e está começando a acontecer online também, mas é preciso ter as ferramentas. 

Temos na Pearson um ambiente de aprendizagem chamado Open Class, no qual o aluno é chamado para compartilhar vídeos, utilizar ferramentas como o Pinterest para marcar o que acha interessante para a classe, decidir com quem querem compartilhar. Com os MOOCs essa é a tendência, e eu não chamaria isso de um curso online, mas de um curso que por acaso é oferecido online. O professor que ensina com MOOCs reconhece a necessidade dos estudantes de contribuir, o desafio é como organizar tanta informação que virá dos alunos. Ou os alunos devem formar grupos de estudo, ou devem contar com professores assistentes para ajudá-los. 

Você acha que as redes sociais são superestimadas? Elas podem ser algo temporário que não deveria afetar a forma como uma instituição ensina? 

É um fato que mudamos a forma como ensinamos, e estamos começando a descobrir agora o valor educacional de tantas ferramentas, como o Pinterest. Quem imaginaria que ele poderia ser usado para a educação? As ferramentas definitivamente existem, mas precisamos pensar em novas e criativas formas de usá-las. 

Mas de certa forma, eu não sei se eu diria que as redes sociais são superestimadas. Estamos em um mundo agitado, e elas são definitivamente utilizadas demais. Todo mundo fala que precisa estar nas redes sociais. Mas calma lá. Por quê? Pare para pensar que tipo de informação você precisa passar para os seus estudantes. Às vezes as redes podem ser utilizadas, às vezes não. O professor tem que se questionar: a rede social é a melhor maneira de ensinar isso? 

Redes sociais e MOOCs são parecidos no sentido que todo mundo parece achar que esse é o caminho da educação. Eu diria pare, respire, vá devagar e pense em qual é sua meta com seus alunos, o que você quer que eles aprendam e façam, e depois decida qual é a melhor ferramenta. Talvez a melhor ferramenta seja o MOOC, a rede social, ou talvez não seja nenhuma delas, talvez a melhor forma de trabalhar em algumas situações é sentando junto e conversando, algo totalmente offline. Então minha dica é: tenha uma intenção clara ao usar essas ferramentas.  

No início da TV, os programas de rádio eram adaptados para a tela, não feitos para ela. Estamos passando pelo mesmo com a educação online? As pessoas estão tentando repetir as mesmas fórmulas do presencial? 

Sim, muito, e o resultado é que os estudantes se sentem muito menos conectados a sua educação. Parte do meu trabalho além da Pearson é ser professor na Universidade de Colorado, em Denver. Eu dou aula de sociologia online, porque temos um programa em que os alunos podem fazer todo o curso online. Mas se você perguntar o quanto eles se sentem conectados à universidade em relação a um aluno que faz todas as suas aulas no campus, os estudantes online se sentem muito isolados. Tem uma diferença em termos de como a informação chega para eles, porque em um curso online não é suficiente que um professor fale “leia dos capítulos 1 a 3 e vamos discuti-los e você vai responder essas perguntas”. O que está perdido aí é o imediatismo, o sentimento de proximidade de outra pessoa.  

Como você enfrenta esse desafio como professor? 

Uma das coisas que faço na minha aula é um vídeo rápido, de 5 a 6 minutos, para colocar no YouTube e incorporar ao curso. Eu explico o que é importante para as leituras daquela semana, falo de grandes temas que vamos discutir naquela semana, e muitas vezes comento como foi o trabalho da semana anterior. E os estudantes tem a chance de responder os vídeos com seus próprios vídeos ou com mensagens, para que a gente possa ter mais o imediatismo. É melhor do que escrever textos para lá e para cá. E eu acho que isso vai fazer uma grande diferença, a habilidade de não apenas ler, mas de ouvir e ver também. 

Faz diferença para esse processo que no Brasil os tablets, computadores e internet não sejam popularizados como nos Estados Unidos? 

Eu não sei se é a quantidade de aparelhos, mas o tipo deles. Nos Estados Unidos, muitas pessoas temos esses aparelhos, é verdade, mas eu acho que veremos uma convergência cada vez maior dessas tecnologias. Eu acho que veremos o tablet se tornar um aparelho central que os estudantes vão usar. Agora nos Estados Unidos muitas pessoas tem os três aparelhos, o computador, o tablet e o smartphone. Só porque eles podem, e porque cada um serve para algo levemente diferente do outro. Mas quando começarem a ter o mesmo propósit,o veremos muitas pessoas não precisando de um computador, por exemplo, só de um tablet. As únicas pessoas que vão precisar dos computadores maiores são as que produzem o conteúdo, como designers, desenvolvedores de softwares etc.  

Podemos até dizer que o Brasil está pensando além da curva, porque se você não precisa investir seu dinheiro em três tipos de aparelho, talvez possa focar seus recursos nas escolas nos tablets, e na verdade é assim que as coisas vão funcionar. Se alguém diz que quer um computador para cada aluno da escola, deve pensar antes quatro anos para frente, quando ainda tiver aqueles computadores. Eles ainda vão ser o centro da tecnologia de aprendizagem? Se você pensar em um tablet, é um investimento muito mais inteligente, porque você está se preparando para um futuro de convergência de aparelhos. 


FONTE: guiasdeeducacao

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