sábado, fevereiro 15

Veja como dar nome à sua empresa sem cair em modismos

Quando Gustavo Pehrsson, 30, e os sócios buscavam um título para a agência de marketing que estavam abrindo, queriam que o endereço do site fosse também o nome da empresa. "Daí descobrimos o Tonga", conta.

Se eles registrassem o site em Tonga, um minúsculo país no meio do Pacífico, o endereço terminaria em ".to", e, assim, poderiam criar uma palavra. A agência foi batizada como fri.to.

O caso não é isolado: para empresas que fazem negócios na internet, a disponibilidade de uma URL (o endereço do site) virou um dos principais critérios na hora de escolher o nome.

A especialista em nomeação de empresas Vanessa Pasquini De Rose Ghilardi, 41, da consultoria Novetà, diz que, "antes da web, as empresas buscavam nomes que começavam com 'a' para ficar nos primeiros lugares das listas, mas hoje ninguém mais procura um serviço virando páginas; entra-se em um buscador na internet."

Karime Xavier/Folhapress
Arthur Farache consultou uma numeróloga e batizou sua empresa de Intoo
Arthur Farache consultou uma numeróloga e batizou sua empresa de Intoo


Para o consultor americano Bob Killian, a URL é importante, mas não deveria ser o único critério na hora de definir um nome. Acima de tudo, afirma, a palavra escolhida deve indicar "qual é a direção do negócio".

Guilherme Sebastiany, que é especialista em "naming", ou seja, nomear empresas e serviços, explica que hoje existe a tendência de escolher alcunhas artificiais: "Não significam nada ou são modificações nas grafias de palavras existentes".

Isso acontece porque grandes empresas de tecnologia, como o Google, adotaram essa estratégia e influenciam os novos negócios a seguir a mesma tática.

Isso fica evidente em um levantamento feito pelo consultor americano Christopher Johnson. Ele analisou nomes de companhias presentes no banco de dados Crunchbase e descobriu que há 161 corporações cujos nomes terminam em "li", "lee" e "ly" -parecidos com o famoso encurtador de URLs bitly.

Para Sebastiany, outra tendência é adotar alcunha "arbitrária": palavra já existente e que não tem relação com o negócio, mas que, "pinçada, adquire outra aura".

Isso virou comum no setor de telefonia, em que as empresas têm nomes como Vivo e Claro.
Ele diz que essa pode ser uma estratégia interessante para novas empresas, já que fazer uma menção direta e óbvia ao negócio pode ser a mesma ideia do concorrente.

HOMÔNIMOS

O empresário Jorge Durão Henriques, 47, teve problemas com empresas com nomes semelhantes. O negócio dele, de fabricação de peças para construção civil, era conhecido como Innova.
Mas existiam pelo menos sete concorrentes com nomes parecidos, e não eram raros os clientes que iam a uma outra Innova.
Leonardo Soares/Folhapress
Jorge Durão Henriques afirma que ganhou clientes depois que alterou o nome da companhia
Jorge Durão Henriques afirma que ganhou clientes depois que alterou o nome da companhia

Ele resolveu adotar a marca Amplia. Depois da mudança, fez uma campanha de publicidade. "Fechamos 19% de negócios a mais com a nova comunicação", diz.

A consultora Ghilardi diz que são poucas as pequenas empresas que buscam serviços como o dela, já que o custo, de cerca de R$ 5.000, é alto para novos negócios.

Stela Monteiro, 65, achou que valia a pena. Dona de uma empresa que faz doces e bolos, inicialmente pensou em batizar o negócio de Festa Fácil. Mas, depois da consultoria, optou por Festim Flu, que, diz, remete alegria e comemoração.

Ela está registrando esse nome no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual). Segundo Ghilardi, registrar uma marca "não é bolinho", mas é importante garantir a exclusividade.

Zé Carlos Barretta/Folhapress
Stela Monteiro optou pelo nome Festim Flu
Stela Monteiro optou pelo nome Festim Flu
Uma empresa não consegue registrar um nome com uma palavra comum, como "festa". A chance de o registro ser aceito aumenta se o vocábulo for um neologismo.

Não são todos os empreendedores que se preocupam com o INPI. "Será a última coisa que iremos fazer", diz Arthur Farache, 29, fundador da Intoo, uma plataforma para comparar condições de empréstimos financeiros.

Ele afirma que registrar é trabalhoso e que se alguém abrir um negócio com o mesmo nome, ele pode processar por usar a palavra há mais tempo.
Os sócios haviam decidido batizar a empresa com a palavra inglesa "into", que quer dizer "para dentro de".

Mas Farache decidiu adicionar um "o" no fim, por sugestão de uma numeróloga.
"Ela disse que, do ponto de vista da numerologia, com dois "os", teríamos mais chances de dar certo."


Editoria de Arte/Folhapress

Mesmo alterada, a palavra ainda se encaixa nos critérios dos sócios, que querem um nome com poucas letras.

Daniel Duarte, 40, presidente de uma empresa que desenvolve soluções de tecnologia para comunicação, estava atrás de uma palavra curta e, com o serviço de uma consultora, cunhou o termo Itnear. "Quanto menor, mais fácil para trabalhar no universo eletrônico", afirma.

Para os especialistas, é bom que a palavra seja curta, mas é preciso pensar em outros aspectos.

TERAPIA

A agência de publicidade de Fábio Souza, 34, chama-se e|ou. Ela é grafada em minúsculas e com a barra perpendicular.

"Às vezes o nome causa alguma confusão, há telefonistas não entendem e já fomos chamados de 'Elou'. Mas o questionamento vira assunto em conversas", diz.

O especialista americano Bob Killian afirma não gostar de grafias como a da agência. "O ideal é dizer o nome uma vez só e fazer com que o interlocutor a diga corretamente. Ao introduzir marcas gráficas, coisas que não são pronunciadas, será preciso explicar."

Souza diz que a ideia por trás do e|ou é que a soma ou alternativa implica na inclusão de todos, ou seja, do mercado inteiro. Em 2003, quando ele entrou no mercado, o mais comum na publicidade era usar o sobrenome dos sócios, afirma.

Em alguns casos, o sobrenome pode criar ruído. Mas isso não fez Alexandre Fuck mudar o nome da empresa de sua família. "Os antigos já diziam que colocar o sobrenome na marca mostra o comprometimento com o cliente", afirma, por e-mail. A Fuck, diz, fabrica portas há mais de 70 anos em Canoinhas, Santa Catarina.

Marcelo Sommer, 46, não pode lançar roupas com o sobrenome. Em 2004, o grupo AMC adquiriu a marca. De lá para cá, o estilista passou a usar seu nome completo ao assinar peças. Por sugestão de uma juíza que arbitrou uma ação entre Sommer e a AMC, ele começou a assinar também como Do Estilista. Hoje, diz, não voltaria a usar só o sobrenome. "Foram anos de terapia para resolver esse assunto e hoje estou bem. Desapeguei."


Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Daniel Duarte queria uma nome curto para sua empresa de telefonia e optou por Itnear
Daniel Duarte queria uma nome curto para sua empresa de telefonia e optou por Itnear



FONTE: folha.uol

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