sábado, outubro 5

Educação – A tragédia anunciada?

Eu sempre reluto em colocar próximas as palavras Educação e Tragédia, pois a distância entre as mesmas é infinita, mas parece que no caso brasileiro o descaso, e a falta de um projeto mais consistente de educação, em todos os níveis, parece literalmente aproximar as “palavras”, e ao mesmo tempo criar um estado de tragédia anunciada. Mas por quê anunciada? A violência crescente, o fraco debate político na sociedade, o altos índices de corrupção, e as últimas posições do Brasil nos “rankings” internacionais de educação, competitividade e inovação, só nos levam a crer que a educação no Brasil se tornou uma tragédia, e não a verdadeira solução para o desenvolvimento social e econômico deste país.
Na semana que passou, a Revista Exame organizou o evento para discutir a produtividade nacional, e qual foi a palavra mais em evidência, e tida como solução efetiva para a produtividade e competitividade brasileira, EDUCAÇÃO.
E por quê vivemos somente no discurso? A quem possa interessar deixar a educação como uma grande retórica, e não como uma evidência prática para a melhoria do país? Claro que a antiga resposta, de que os políticos não querem educar seus eleitores ainda persiste nos rincões deste país, mas parece que uma letargia educacional, juntamente com ingerências políticas, na verdade afastam a sociedade de uma debate mais profundo sobre a própria educação em todos os seus níveis.
É muito triste ver que duas das principais universidades do país, e da América Latina, a USP e a UNICAMP caíram em suas posições no principal ranking internacional de qualidade acadêmica, o THE (Times Higher Education), que mede a qualidade das 200 melhores instituições de ensino superior do mundo. Em primeiro lugar está a Caltech da Califórnia, Estados Unidos e em décimo lugar está o Imperial College London, da Inglaterra, já a USP que estava na posição 158 caiu para a faixa de 226 – 250, enquanto que a UNICAMP saiu da faixa 251-275 e foi para a faixa 301-350, agora imagina o resto? É difícil de compreender, como a sétima economia do mundo, 200 milhões de habitantes, poder geopolítico, riquezas minerais e energéticas em abundância, é detentor do maior grupo educacional do mundo, e tem os piores indicadores educacionais do planeta, caro leitor dá para entender?
O próprio Fórum Econômico Mundial (WEF) no quesito educação, avaliou 122 países, e colocou o Brasil na posição 88 em seu relatório de capital humano, não é a toa que o país sofre de carência de mão de obra qualificada, e insiste em trabalhar sobre uma única lógica de acesso ao ensino superior, e não a lógica de acesso ao conhecimento e educação com qualidade. Isso responde o indicador de país com a melhor mão de obra, o Brasil está na posição 57.
E para piorar a situação, ainda considerando o caso USP e UNICAMP, nesta semana as duas instituições passam literalmente por uma “intervenção dos alunos” e greve. Parece quase oficial, que os calendários acadêmicos de ambas instituições, deva ter greve no cronograma. Os alunos se esforçam para desenvolver a greve para questionar a escolha do reitor, da presença da polícia militar no Campus, ou até mesmo as festas promovidas, mas não se mobilizam por uma melhor infra-estrutura educacional, melhor qualidade de ensino, melhores professores, enfim, a prática educacional instalada nas duas principais universidades do país, na verdade está mais para o debate utópico e político, do que o realismo prático da aplicabilidade da educação. Isso tudo me faz lembrar a fala de um aluno de administração, “professor, a educação é chata”. Imagina o que pensa um aluno do ensino médio?
E quando aprofundamos a análise nas instituições de ensino privadas, a questão é mais trágica. Por mais que as mesmas cumpram o papel de acesso, que as próprias universidades públicas não conseguem atender, a percepção de qualidade e entrega do ensino deixa a desejar, pois considerando que 75% das instituições estão na média do sistema de avaliação, ou melhor nota 3, ou ENADE 3. No Brasil a máxima, “o excelente é inimigo do bom”, parece uma certeza nas instituições privadas, mas ao mesmo tempo é um fator perverso para o desenvolvimento da excelência e inovação no país. E para piorar o quadro, ainda é muito comum encontrarmos instituições de ensino com péssimo modelo de gestão, literalmente quebradas, sem contar instituições que tiveram seus patrimônios “estuprados”, e aí sobra para os lados mais fracos, professores e alunos.
E é interessante ver, que de todos os mercados e setores, o da Educação Superior é o que mais cresceu, e está em tendência de crescimento, inclusive com novos movimentos de aquisição e crescimento das instituições. Hoje o Brasil tem 7 milhões de alunos matriculados na graduação conforme censo do MEC, e destes 15% na modalidade de educação à distância (EAD). Considerando a demanda nacional, hoje o país deveria ter pelo menos 14 milhões de matriculados, assim o ambiente para o crescimento deste mercado ainda é muito propício. Não é a toa que diversos grupos educacionais dos Estados Unidos, da Europa e da própria China estão de olho no Brasil, inclusive na modalidade EAD, que tem um potencial de crescimento de mais de 400% nos próximos 5 anos. E se o governo federal ampliar a participação do financiamento estudantil para a modalidade EAD, aí que o potencial literalmente explode exponencialmente.
O Brasil precisa mudar o conceito sobre o EAD, e avançar pesadamente. Deve aprender com os exemplos de Harvard e MIT, e potencializar a educação à distância com extrema qualidade, o custo do investimento, proporcionalmente para o Brasil é baixo, mas precisamos colocar de lado a pedagogia política e sem noção, e encarar de vez o lado mais estratégico da educação.

Outro ponto importante no ambiente educacional brasileiro é o saber fazer. As universidades precisam ensinar mais a “fazer”, as mesmas devem ser “Escolas de Fazer”. Muitas ainda são puramente especulativas, e de pouca aplicação. Lembro do exemplo que vivi quando aluno do SENAI. Fui fazer um curso de ajustagem mecânica, e pude perceber 10% de teoria robusta, e 90% de oficina e prática. Lembro também, que quando fui para a escola militar, a mesma era “fichinha” perto do rigor e da qualidade de ensino do SENAI, que até hoje é das escolas com os maiores indicadores de empregabilidade do Brasil.
Mas em tragédia anunciada, a falta de um plano estratégico para a educação em todos os níveis, uma visão mais estratégica sobre a educação, uma imersão maior no aprender a pensar e no aprender a fazer, e principalmente aprender com os melhores, o Brasil precisa rever urgentemente sua políticas práticas. Pois com a crescente violência instalada em todo território nacional, os cenários são trágicos. Só a educação acaba com a violência, transforma o país, amplia sua competitividade, muda nossa imagem, melhora nossa auto-estima.
Por que o Brasil não aprende com os melhores modelos educacionais do mundo?
Por que o Brasil não internacionaliza efetivamente suas universidades? Por quê não temos currículos 100% em inglês?
Por que nossas universidades não são “Escolas de Fazer”?
Por que não avançamos de forma exponencial no EAD?
Por que insistimos em termos diplomas e não conhecimento?
Por que não mudamos a retórica pedagoga por uma visão aplicada e estratégica de educação?
Por que as greves nas instituições públicas não são focadas na melhoria do ensino?
Por que o Brasil se afasta tanto dos indicadores internacionais?
Para finalizar o inacabável sobre o tema, quero relembrar uma frase do livro “Os tortuosos caminhos da educação brasileira” de Claudio de Moura Castro, que brilhantemente botou a pedagogia política de lado, e foi no cerne da questão: “Desde a idade média, a universidade é a pátria da meritocracia. Não obstante, convivemos com uma avalanche de imposições sindicais que paralisam a sua competência científica. Trata-se de uma suposta “democratização” do ensino superior, mas que leva à derrocada da qualidade do ensino. Tal movimento vai simplesmente no sentido oposto ao objetivo procurado. É o mesmo que rimar democracia com mediocridade.”
Como diria A. C. Bradley em sua Tragédia Shakespereana de 1904, “o mundo trágico é um mundo de ação”, assim a tragédia instalada é na verdade para a sociedade brasileira, um momento de mudança. De revisão. Por enquanto o modelo instalado já se confirmou como trágico, e os resultados são evidentes, violência e desanimo social.
Caro leitor, qual a sua opinião? Com tanta violência, que solução você enxerga? Na minha singela opinião, só a educação transforma e salva!

FONTE: exame.abril

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